JOVENS N'UM MUNDO VELHO

JOVENS N'UM MUNDO VELHO

Manifestações de rua têm se sucedido nas últimas duas semanas com o chamamento de jovens por velhos ideólogos. Sim, o mundo no qual conceitos como "esquerda, direita, extremistas e centrão" fizeram sentido é o da Assembléia que criou a República Francesa a partir das cinzas do Antigo Regime, ainda no século XVIII… 

Ou seja, temos convivido com uma polarização ultrapassada em pelo menos duzentos anos como ordem do dia. Um mundo velho, caduco, de frases feitas sendo repetidas à exaustão e jovens se dividindo entre extremos ideológicos incomunicáveis. A pergunta dos Titãs permanece:-- "Quem quer manter a Ordem? Quem quer criar desordem?" -- Direitas ou esquerdas… Extremos ou centros... Todos apenas lutam pelo poder. 

Para começar o contraditório, podemos citar o próprio presidente da República, segundo o jornal O Globo ainda no dia 15 d'este mês: 

"Se você perguntar a fórmula da água, não sabe, não sabe nada. São uns idiotas úteis que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo das universidades federais no Brasil"

Ou ainda o governador João Dória, acerca das manifestações conclamadas pelos bolsonaristas, no dia 19 último:

"O povo já foi à rua, já manifestou as suas posições. Consideramos como algo inútil, inadequado (as manifestações pró-Governo), estabelecendo o potencial de confronto que não é o momento".

Entre prós e contras, o Brasil tem perdido. Hoje, dia 30 de maio, novas manifestações em defesa da Educação Pública (não só a universitária) tomam as ruas de várias cidades do país. A impressão para quem olha de fora é de que os movimentos mobilizadores das manifestações correm o risco de transformar as ruas em palco de competição ideológica. A leitura "factual e pragmática" dos jornalistas tem se limitado a comparar números de participantes, de modo a municiar os analistas políticos sobre o tamanho dos respectivos "exércitos de massas de manobra" -- inúteis ou úteis, a depender de quem julga.

Ao chamar a sua militância para rua, o Governo transformou o que era uma reivindicação de classe n'um confronto ideológico, esse sim, inútil. Os problemas na Educação Pública permanecem, mas as soluções em debate deixaram de ser técnicas e passaram a ser ideológicas, de modo que propor mais ou menos recursos deixasse de ser uma questão orçamentária para se transformar n'um projeto de desinteligência nacional. 

Inúteis não são aqueles que vêm às ruas com bandeiras coloridas, sim a ideologização dos discursos. Compete ao Governo esfriar os ânimos e propor ambientes institucionais para responder à sociedade. Sob pena de, dia não dia sim, assistirmos as ruas das cidades brasileiras como cenário de manifestações cada vez mais afirmativas de grupos à direita e à esquerda, do que catalisadoras de legítimas pautas nacionais.

 

No dia em que as datas coincidirem, com a direita e a esquerda na mesma avenida, não haverá mais debate; haverá confronto. Resta-nos -- como jovens ou nem tanto -- desmascarar os velhos manipuladores e construirmos um mundo que possamos chamar de novo…

É isso.

Belo Horizonte - 30 05 2019