Invasores e demolidores do Capitólio
Os intelectuais e os meio intelectuais amam as coisas do patrimônio que nos contam histórias e retroalimentam nossa memória. São também de posições políticas refinadas que respeitam a diversidade de pensamento e a pluralidade de ideias; na maioria, compreendem as injustiças sociais e também as suas causas, e posicionam-se em prol das causas sociais. Se amam as coisas antigas, estão muito bem nos velhos bares, onde se rememoram fatos e gente do passado, sobretudo, quando existe um garçom que saiba mais os nomes dos antigos clientes do que os próprios itens do cardápio. Os não intelectuais, ou melhor, os rudes, mesmo letrados, menosprezam o patrimônio, classificam os motivos da memória como “coisa velha”, e com desprezo colocam no lixo o que tiver cem anos de existência ou derrubam paredes, tetos ou construções que são espelhos do passado, onde e quando sempre estiveram as nossas tradições culturais, fatores da nossa identidade. Esses jamais compreenderão que a História não é muda, apenas se esconde por trás dessas coisas.
Para mim, o meu cinema continua sendo o primeiro que vi na minha vida, simples e modesto. O barulhento projetor do “Seu” Zé Ribeiro que trazia à cidade de Pilar projeções no Mercado Público. Sempre após o seriado, um filme que se alternava com um faroeste: ou era Oscarito ou o Gordo e o Magro na tela. Prometiam sucessos como O Ébrio, de Gilda de Abreu com Vicente Celestino, mas só boatos; filmes assim só passavam no Cine Ideal de Itabaiana. O de Pilar não tinha nome, chamava-se apenas "cinema"; era apenas um tripé de madeira para a máquina; e em quatro pregos na parede, sustentava-se um lençol de casal amarrotado, que perdia, cada vez mais, sua cor de tela. O Cine Ideal não traz mais lembranças, derrubaram-no. O de Pilar, sim, era o Mercado que continua ainda hoje de pé, contando sua história.
Em 390 a.C., quando os gauleses, considerados bárbaros pelos romanos, silenciosamente, “às caladas da noite”, invadiram Roma, somente o Capitólio reagiu porque suas hostes foram acordadas pelos gansos que, ali consagrados a Juno, protetor do Capitólio, grasnaram. Então os soldados romanos, alarmados, rechaçaram os invasores de ladeira abaixo. Até hoje, preservam o Capitólio e suas edificações, bem perto do Fórum Romano como história e memória da Antiga Roma, dos cesares e das sabinas. Lá está, sob encomenda do Papa Paulo III, a Praça do Campidoglio e seus mármores que foram arquitetados por Michelangelo. Porém, contra a invasão do Capitólio de Campina Grande, os gansos grasnam, os amantes do patrimônio gritam, mas a ganância imobiliária e “o preço do projeto” tudo fazem para derrubar o Capitólio com suas únicas grossas paredes e forma originais, estando firmemente tudo no seu lugar. Para esses, tal patrimônio pouco vale; mesmo que lá estejam sobrevivendo e resisitindo suas robustas e firmes paredes.
Há quem queira ampliar, no lugar do Capitólio, a Praça Clementino Procópio, que só precisa ser melhorada porque já abriga muito bem a população que a procura. O ideal é que o Cine Capitólio seja preservado e transformado num Centro Cultural que ofereça à população biblioteca, videoteca, audioteca, sala cinematográfica e, sobretudo, uma boa biblioteca com livraria, do que a cidade necessita. A estrutura do Cine Capitólio faz parte, como o Colégio das Damas, da fisionomia do Centro Histórico de Campina Grande; indica nossas lembranças; sempre foi referência de saída para outras cidades do interior: Ingá, Mogeiro, Itabaiana e as estradas para pernambuco. O Cine Capitólio se constitui num logradouro privilegiado para os cinéfilos rememorarem seus cineclubes e bons filmes, em conversas de roda. Foi ponto de paquera e poltrona do primeiro beijo; início de efêmeros namoros, então chamados de flirt; celebração de noivados do que resultaram tradicionais famílias da terra. Aliás, não precisa ser intelectual para ter essa sensibilidade... Que a Prefeitura, em diálogo com o IPHAEP, recupere o Capitólio, mas, de modo que ele continue sendo história e relembrando as circunstâncias na cidade em que nós vivemos. Por que apagar sua história? A História se faz com o tempo, o espaço e suas edificações...
Os intelectuais e os meio intelectuais amam as coisas do patrimônio que nos contam histórias e retroalimentam nossa memória. São também de posições políticas refinadas que respeitam a diversidade de pensamento e a pluralidade de ideias; na maioria, compreendem as injustiças sociais e também as suas causas, e posicionam-se em prol das causas sociais. Se amam as coisas antigas, estão muito bem nos velhos bares, onde se rememoram fatos e gente do passado, sobretudo, quando existe um garçom que saiba mais os nomes dos antigos clientes do que os próprios itens do cardápio. Os não intelectuais, ou melhor, os rudes, mesmo letrados, menosprezam o patrimônio, classificam os motivos da memória como “coisa velha”, e com desprezo colocam no lixo o que tiver cem anos de existência ou derrubam paredes, tetos ou construções que são espelhos do passado, onde e quando sempre estiveram as nossas tradições culturais, fatores da nossa identidade. Esses jamais compreenderão que a História não é muda, apenas se esconde por trás dessas coisas.
Para mim, o meu cinema continua sendo o primeiro que vi na minha vida, simples e modesto. O barulhento projetor do “Seu” Zé Ribeiro que trazia à cidade de Pilar projeções no Mercado Público. Sempre após o seriado, um filme que se alternava com um faroeste: ou era Oscarito ou o Gordo e o Magro na tela. Prometiam sucessos como O Ébrio, de Gilda de Abreu com Vicente Celestino, mas só boatos; filmes assim só passavam no Cine Ideal de Itabaiana. O de Pilar não tinha nome, chamava-se apenas "cinema"; era apenas um tripé de madeira para a máquina; e em quatro pregos na parede, sustentava-se um lençol de casal amarrotado, que perdia, cada vez mais, sua cor de tela. O Cine Ideal não traz mais lembranças, derrubaram-no. O de Pilar, sim, era o Mercado que continua ainda hoje de pé, contando sua história.
Em 390 a.C., quando os gauleses, considerados bárbaros pelos romanos, silenciosamente, “às caladas da noite”, invadiram Roma, somente o Capitólio reagiu porque suas hostes foram acordadas pelos gansos que, ali consagrados a Juno, protetor do Capitólio, grasnaram. Então os soldados romanos, alarmados, rechaçaram os invasores de ladeira abaixo. Até hoje, preservam o Capitólio e suas edificações, bem perto do Fórum Romano como história e memória da Antiga Roma, dos cesares e das sabinas. Lá está, sob encomenda do Papa Paulo III, a Praça do Campidoglio e seus mármores que foram arquitetados por Michelangelo. Porém, contra a invasão do Capitólio de Campina Grande, os gansos grasnam, os amantes do patrimônio gritam, mas a ganância imobiliária e “o preço do projeto” tudo fazem para derrubar o Capitólio com suas únicas grossas paredes e forma originais, estando firmemente tudo no seu lugar. Para esses, tal patrimônio pouco vale; mesmo que lá estejam sobrevivendo e resisitindo suas robustas e firmes paredes.
Há quem queira ampliar, no lugar do Capitólio, a Praça Clementino Procópio, que só precisa ser melhorada porque já abriga muito bem a população que a procura. O ideal é que o Cine Capitólio seja preservado e transformado num Centro Cultural que ofereça à população biblioteca, videoteca, audioteca, sala cinematográfica e, sobretudo, uma boa biblioteca com livraria, do que a cidade necessita. A estrutura do Cine Capitólio faz parte, como o Colégio das Damas, da fisionomia do Centro Histórico de Campina Grande; indica nossas lembranças; sempre foi referência de saída para outras cidades do interior: Ingá, Mogeiro, Itabaiana e as estradas para pernambuco. O Cine Capitólio se constitui num logradouro privilegiado para os cinéfilos rememorarem seus cineclubes e bons filmes, em conversas de roda. Foi ponto de paquera e poltrona do primeiro beijo; início de efêmeros namoros, então chamados de flirt; celebração de noivados do que resultaram tradicionais famílias da terra. Aliás, não precisa ser intelectual para ter essa sensibilidade... Que a Prefeitura, em diálogo com o IPHAEP, recupere o Capitólio, mas, de modo que ele continue sendo história e relembrando as circunstâncias na cidade em que nós vivemos. Por que apagar sua história? A História se faz com o tempo, o espaço e suas edificações...