O pão e a cocotinha
Um dos indícios da idade, fora o desgaste físico pelo tempo, é o vocabulário. Um amigo meu, aí por 2004, foi receber um conhecido no aeroporto de Brasília e, depois das boas vindas de praxe, o recém-chegado foi logo dizendo, ansioso, em meio às centenas de pessoas que esperavam no desembarque:
- Vamos logo tomar uma brama e armar com as cocotinhas. Quatorze anos fora do Brasil, tô morrendo de saudade de tudo.
O anfitrião foi logo dizendo:
- Cara, peraí, deixa a gente sair daqui primeiro, senão vão logo saber nossa idade. Brama, cocotinha...
Segundo meu amigo, isso realmente aconteceu. Mas não importa se é “vero o bene trovato”: o vocabulário de uma pessoa entrega realmente a sua idade. Quando era criança, ouvia os jovens dizendo:
- Vou ver o broto e andar de bonde no jardim.
O broto era a namorada ou namorado, andar de bonde era andar de mãos dadas, de um extremo ao outro da pracinha. Que delícia, principalmente se havia por perto uma dama-da-noite em flor.
Alguém, uns vinte anos antes, diria:
- Vou ao footing hoje à noite. Marquei encontro com minha dama.
Hoje já não há pracinha nem footing nem encontros e passeios de mãos dadas. É que até as cidades pequenas mudaram. Os jovens se encontram nos bares, lanchonetes e botecos, passeiam de carro ou de moto.
Cocotinha, pão eram os termos que queriam dizer menina moderninha e rapaz bonito na época da Jovem Guarda.
A cerveja, durante muito tempo, foi brama. Podia ser Antarctica ou outra marca qualquer, mas era uma brama.
- Me vê aí uma brama!
- Qual?
- Da Antarctica, bem gelada.
E as geladeiras? Amigos meus, gaúchos, de minha faixa etária, sempre se referiam à geladeira como “frigidaire”.
- Vai lá e pega uma brama na frigidaire.
E eu, até hoje, sempre chamo creme dental de dentifrício.
Então, querido leitor, se não quer parecer velho de cara, atualize, antes de tudo, o vocabulário. Nesse caso aí, se alguém se incomoda, o peixe morre realmente é pela boca.