A alcova e os caminhos
Agora que já se sabe que o senhor senador, numa aguçada perspicácia, retirou parte do corpo da gigantesca alcova que estava metido, podemos abrir os olhos e caminharmos sossegados.
Podemos também ler as páginas dos jornais. As colunas que tratam com desenvoltura da sociedade moderna. Sem, no entanto, arriscarmos muito. Pois, ainda existem pequenas faíscas de escândalo se desdobrando pelas frestas das paginas política-policiais.
Podemos também assistir as partidas de futebol (em paz). E começarmos a analisar qual será o time campeão deste ano. Ou, num ato coletivo, chegarmos a uma conclusão sobre o nome do jogador ideal para vestir a camisa nove da seleção.
Ah! Podemos enviar um abaixo assinado para a maior rede de televisão do país exigindo que este nos revele, antes do último capitulo, quem matou a personagem Tais.
Ou, caso o mistério persista sem nos deixar dormir, devemos realizar em nossa cidade uma grande passeata com: cartazes, camisas coloridas, dizeres de efeito, exigindo que sejamos imediatamente atendidos.
Não devemos nos chatear, nem tão pouco ficarmos ofendidos com a imprensa. Ou com algum intelectual mal resolvido que constantemente nos escreve ou palavreia em algum veiculo dizeres como: “comodismo”. Após oito horas de trabalho árduo, nosso senso critico permite que façamos uma breve analise apenas do nosso próprio trabalho árduo.
A primavera está chegando. Mas pelo desdobrar das estações, passaremos algum tempo sem saber quando será primavera, outono, inverno ou verão.
O que muito nos amedronta. Já pensou se passarmos o ano a deriva de nosso próprios fantasmas, sem um banho de mar.