A VISITA
Há alguns dias, recebi uma visita inesperada.
Aliás, minto.
Inesperada não!
No fundo eu sabia que ela me procuraria novamente, mais cedo ou mais tarde e foi exatamente o que aconteceu.
Ela sempre se aproxima assim, devagar, como quem não quer nada.
Traiçoeira, sórdida, ela vem ver como eu estou.
Ás vezes, não quero recebê-la. Deixo-a batendo na porta dias inteiros, na vã esperança que ela vá embora, que desista de mim, que me esqueça.
Quem dera! Ela não desiste fácil....
Me conhece e sabe que, aos poucos, vou ceder espaço, não tanto quanto ela gostaria, mas o suficiente para que se instale ao meu lado e me acompanhe.
Por quantos dias ela ficará desta vez?
Eu não sei, só ela sabe...às vezes, a visita é rápida, outra vezes, de longa duração.
Algumas dessas vezes, na hora de ir embora, ela queria levar um souvenir: meu fôlego de vida. Por isso, ainda me sinto desconfortável em sua presença, pois ela me incomoda.
Ao meu lado, ela faz questão de me trazer à lembrança todos os meus fracassos, todas as minhas dores, todas as minhas frustrações.
Não satisfeita, ela ainda me faz acreditar que eles vão se repetir e que meu amanhã não verá manhãs quentes de sol, mas somente invernos.
Ela me faz chorar, mas não enxuga nenhuma das minhas lágrimas.
Me angustia, mas não se preocupa, de forma alguma, com minhas condições cardiológicas.
Para ela, não interessa o que eu quero ou o que eu penso. É como um parasita que se alimenta do meu desconforto.
Por osmose, acabo querendo o que ela quer e pensando o que ela pensa.
Esse é o maior perigo.
Ela é má, severa e diabólica. Não gosto dela, nem ela de mim, mas eventualmente, convivemos uma ao lado da outra.
Espero que um dia ela vá embora de vez e não volte nunca mais.
Quando será esse dia, eu não sei, só sei que até hoje, ela tem ido embora sem mim, mesmo tendo recebido convite para acompanhá-la, não uma, mas várias vezes.
Vou continuar sempre dizendo não.
Não vou com você, depressão.
E ela vai sempre se despedir da mesma forma: “Então, até a próxima!”