Sarau dos Ventos com Fernando

Hoje fui apresentado a Fernando Pessoa!  Ele veio como se nunca tivesse estado, veio com um ar de ausente debochado, saiu de um quarto, pálido como se morasse ali...usando o mesmo chapéu de abas preta e timidamente não disse nada. Com as vestes fragmentadas, recortado remendado quase sem identificação,  justamente por isso, se tornou completo e inteiro, entendeu a necessidade  de repartir-se para caber em si. Se dividiu adquirindo três carteiras de identidades e um enigma  insolúvel para quem assistiu.

Quando a anfitriã ofereceu-lhe um assento, não sabia quem era, era a pessoa, ou o pessoa? mas, que pessoa abrigaria  homens na sua própria casa? ( será que, por isso começou a beber!) Acostumado a trilhar por caminhos distintos e complexos, ele saiu sem se despedir, deixou cair um poema amassado do bolso e apenas um verso se referia a cor do vestido da prostituta que não conheceu, e num passo elegante dobrou o paletó, experimentou o licor de canela de Célia, virou-se a rua ao lado esquerdo

e seguiu como se nunca tivesse estado alí  e sumiu!

  

Lázaro zachariadhes
Enviado por Lázaro zachariadhes em 28/05/2019
Reeditado em 07/04/2023
Código do texto: T6658491
Classificação de conteúdo: seguro