Seu Vavá
Passando três casas depois da minha, residia Seu Vavá – era açougueiro. Era torcedor fanático de um time local, Paysandu.
Diariamente, no começo da manhã, ele passava. Ia para o trabalho. Seguia seu caminho, não falava com ninguém, sério, orgulhoso. O jeito dele.
E residia na rua há um bom tempo. Mas jamais se entrosou com vizinhos. Não sei por quê.
Tão apegado ao time ele era que, quando ele (time) era derrotado, Seu Vavá não jantava. E não queria conversa com ninguém da família – filhos e a mulher, dona Maria.
Ia para o quarto, se trancava. O pessoal da casa já o conhecia. Cada um na sua, nada de puxar conversa com ele. Nada de comentar o jogo.
A revolta era bem maior se o vencedor fosse o principal adversário do Paysandu – o Clube do Remo.
Ele ficava 10 vezes mais emburrado, irritado. Depois, claro, 2 ou 3 dias depois, a coisa esfriava, voltava ao normal. E tem de ser assim.
Quando o time vencia, bem, era só sorriso. Gostava de gozar com a cara dos outros (dos remistas).
Há outras pessoas que, como ele (Vavá), têm esse, bem, vou chamar de desvio. Não sei se é um desvio – não sou psicólogo.
Mesmo assim, embora feliz com a vitória, o açougueiro Vavá não dava bom dia a ninguém, os vizinhos.
Não dava cartaz.
Só relaxava no local de trabalho. Faleceu repentinamente, ao se dirigir ao açougue. Caminhava, sentiu-se mal. Pessoas o socorreram. Sofreu um infarto.