AFRICANO COMO OS OUTROS

Crónica

Não me venham com essa de que por ser de etnia branca não sou africano. Pura demagogia. Sou e sinto-me tão africano como outro qualquer indivíduo nascido em África. O inverso também se aplica para um negro nascido em Portugal que é considerado português. Por isso não abdico dos meus direitos. Também os meus filhos nascidos em África são africanos. Sentimos muito orgulho por sermos africanos. Todavia, não somos ingratos ao ponto de menosprezar a terra donde emigraram os nossos pais. No meu caso particular, Portugal. Levaram consigo para África a sua juventude com profissões definidas e o conhecimento da vida, contribuindo para enriquecer o progresso das terras africanas onde se fixaram.

No meu caso particular, não tendo eu nunca estado ligado a qualquer partido político, abominando até a política e o regime vigente naquele tempo, sempre me preocupei com uma vida normal de trabalho e melhoria de vida. Nunca desempenhei cargos públicos porque a PIDE me tinha rotulado de anti-regime. Nas quatro décadas da minha vivência em África rodiei-me de bons e sinceros amigos negros e brancos, sendo respeitado tanto por pessoas modestas como pela média e alta classes. Ressalvo o período de tempo de cinco anos que estudei em Portugal, em que apenas fiz meia dúzia de amigos. Depois da minha vinda definitiva para Portugal, nunca mais criei novas amizades. Passei a viver discretamente e no meu mundo virtual on-line

Sinto-me feliz por ter tomado esta opção, evitando ficar exposto a polémicas e atritos em convivências duvidosas. Para consumir o meu tempo disponível, recorri à leitura e escrita que me dão prazher e me fazem sentir válido.

Ruy Serrano

Escritor

Tomar - 27.05.2019