Uma manhã
Numa manhã minha filha pediu-me para comprar ovos – ela tem um restaurante. Fui à esquina, à quitanda. Umas nove horas, por aí.
Fazia bela manhã. Sol, um pouco de vento. Passarinhos cantando.
Dizem, o mundo está mais cruel, indiferente, egoísta. Pode ser, embora desde que ele existe a maldade faz-se presente: guerras, injustiças, mortes, ganância. Creio que a história continuará a mesma, até o fim dos tempos.
São duas violências, a física e a psicológica.
Falam até em fascismo à brasileira. Ódio aos pobres, mendigos, pardos, negros. E até ódio às crianças. Que isso não vire moda. Não.
O negócio está ficando grave. Bem, eu ia pela rua, caminhando, despreocupado. Fui à quitanda.
Os carros apressados, outros mais lentos. Transeuntes caminhando, indo ao trabalho ou outro lugar. A vida seguindo sua rotina. Entrei na quitanda.
Uma jovem simpática deu-me bom dia, sorrindo. Gostei. Dei-lhe bom dia. Sorri também.
Peguei os ovos. Paguei. Voltei. Dei-os à minha filha.
E fiquei a meditar sobre esta tarefa, de ir comprar ovos. Achei-a tão simples, algo extremamente banal, humilde. Trivial.
Para mim, no entanto, aquilo foi importante, valioso. Justamente por ter sido uma ação meio insignificante, mas leve, feliz.
Isso deixou-me satisfeito. Aquela manhã me tocou. Não sei bem explicar.
Fez-me grande bem esse ato aparentemente sem importância.