Uma manhã

Numa manhã minha filha pediu-me para comprar ovos – ela tem um restaurante. Fui à esquina, à quitanda. Umas nove horas, por aí.

Fazia bela manhã. Sol, um pouco de vento. Passarinhos cantando.

Dizem, o mundo está mais cruel, indiferente, egoísta. Pode ser, embora desde que ele existe a maldade faz-se presente: guerras, injustiças, mortes, ganância. Creio que a história continuará a mesma, até o fim dos tempos.

São duas violências, a física e a psicológica.

Falam até em fascismo à brasileira. Ódio aos pobres, mendigos, pardos, negros. E até ódio às crianças. Que isso não vire moda. Não.

O negócio está ficando grave. Bem, eu ia pela rua, caminhando, despreocupado. Fui à quitanda.

Os carros apressados, outros mais lentos. Transeuntes caminhando, indo ao trabalho ou outro lugar. A vida seguindo sua rotina. Entrei na quitanda.

Uma jovem simpática deu-me bom dia, sorrindo. Gostei. Dei-lhe bom dia. Sorri também.

Peguei os ovos. Paguei. Voltei. Dei-os à minha filha.

E fiquei a meditar sobre esta tarefa, de ir comprar ovos. Achei-a tão simples, algo extremamente banal, humilde. Trivial.

Para mim, no entanto, aquilo foi importante, valioso. Justamente por ter sido uma ação meio insignificante, mas leve, feliz.

Isso deixou-me satisfeito. Aquela manhã me tocou. Não sei bem explicar.

Fez-me grande bem esse ato aparentemente sem importância.

Salatiel Hood
Enviado por Salatiel Hood em 26/05/2019
Reeditado em 26/05/2019
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