A VIDA PELA JANELA
Sentado nesta cadeira de balanço olhando pela janela vejo o tempo passar. Lá fora uma multidão de pessoas se acotovelam diante de um estresse sem precedentes, uns correm para o lado direito outros para o lado esquerdo, alguns ficam indecisos qual o rumo a tomar ficando parados no meio da rua sem direção. No outro lado da rua existe um café bem movimentado, com suas cadeiras na calçada, ampara todos que desejam saborear o café das três, me parece ser delicioso, pois percebo nos lábios de cada um o prazer que sentem a cada gole desta bebida arábica. Me chama a atenção, um senhor beirando os sessenta anos talvez, todo dia exatamente as 15:45hs apodera-se da mesa do canto esquerdo, sempre a mesma, a folhear seu jornal que traz sempre consigo enquanto espera seu café num ritual de dar inveja a qualquer inglês. Vejo aquela senhoria de bengala sorrindo para todo mundo enquanto passeia pela calçada num vai e vem sem preocupar-se com o tempo. Ah! Aquele garoto engraxate sempre alegre provocando sorrisos aos seus clientes, penso que ele deve ser um bom contador de piadas, do contrário os senhores que acorrem a ele para dar brilho em seus sapatos não sorririam.
Ontem presenciei uma cena que me entristecera por demais, ao ver uma criança pedinte ser humilhada diante de todos. Me pergunto: por que as pessoas agem desta forma com os desvalidos? Porque não socorrer aquela criança ajudando-a com carinho, atenção e um pedaço de pão? São cenas que estou acostumado a presenciar da minha janela. Não posso negar que vi um homem bondoso socorrer aquela criança levando-a pela mão para beber um suculento café com leite quentinho. Ainda existem almas boas.
Outro dia dois religiosos se encontraram na praça iniciando um discursão por disputa de espaço, fiquei a pensar: o Deus não é o mesmo? Precisam disputar espaço para pregarem o mesmo Deus? Não me conformei e chorei. Esta chuva que cai torrencialmente lá fora, lavando as calçadas levando toda a sujeira para os bueiros entupidos das ruas provocando pequenas inundações aqui e acolá. Me questiono quem provoca estas inundações: o excesso de água da chuva ou o desleixo do cidadão que não cumpre suas responsabilidades, delegando as autoridades poderes que não lhe compete? Penso estar velho demais para tais questionamentos.
Meus cabelos brancos que o tempo plantara. Minhas rugas que a cada dia surgem em minha pele. Os sinais de cansaço vez ou outra me visitam. Minha visão já um pouco turvada não me permite enxergar com nitidez como outrora. Porém através desta janela me comunico com o mundo lá fora, vejo o tempo passar e acontecer por detrás deste vidro. A vida sorri para mim, as pessoas sorriem para mim, Deus sorri para mim. Lá fora está chovendo e eu aqui a pensar... minha vida acontecer...
Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 25/05/19