LAR DOCE LAR, ONDE UM ÂNGULO SORRI
rof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Permito-me começar dizendo que um ângulo sorri, como escreveu Horácio, poeta latino: “Ille terrarum mihi praeter omnes angulus ridet”, aquele cantinho me sorri mais do que todos os outros da terra. Em sentido metafórico, um ângulo sorri onde seu coração está, “where the heart is” (Elvis Presley). A propósito, “smiles” é a palavra mais longa do idioma inglês: há uma milha entre o começo e o fim, entre a primeira e a última letra. Espero que você tenha uma “mile” de razões para sorrir. Ovídio, outro poeta latino, amigo de Virgílio e Horácio, órfão da terra, teve, no exílio, praticamente o mesmo sentimento, porém expresso de maneira diferente: Minha terra pode estar em qualquer lugar, “Ubi bene, ibi patria”. Talvez assim se sintam muitos imigrantes adaptados à pátria adotiva tornada pátria amada, mãe gentil.
Esse assunto comporta caminhos sinuosos de concepção, de ideologias, em suma. Mikhail Lermontov, poeta lírico russo, disse uma coisa elementar, meu caro Watson: Nossa pátria é onde somos amados. Onde eu vivo bem, aí é meu país; onde me sinto bem, aí é minha pátria, que me faz imaginar que estou no meu país. Esse tipo de nacionalismo cosmopolita opõe-se a outro ponto de vista, isto é, certo ou errado, é meu país, “my country, right or wrong”, expressão cunhada pelo oficial da marinha norte-americana, Stephen Decatur, e adotada por Chesterton.
Na esteira do nacionalismo exacerbado temos também o chauvinismo ou chovinismo. A expressão lembra o soldado francês Nicolas Chauvin, condecorado por Napoleão por sua bravura. Chauvin demonstrou amor ao seu país de tal forma que, mesmo tendo sido ferido dez vezes em combate, retornou aos campos de batalha.
É certo que um cantinho, modesto e silencioso, tranquilo e bucólico, pode representar o melhor lugar do mundo justamente porque pode representar todos os cantos do globo, de norte a sul, de leste a oeste, do oriente ao ocidente, simbolicamente.