Dançando com Nelson Rodrigues
Eu tenho um peixinho chamado Nelson Rodrigues; corrigindo, eu tenho quatro peixinhos, mas apenas um se chama Nelson Rodrigues; corrigindo, novamente, eu não tenho nenhum peixinho, que são do meu filho, mas vivem comigo... e um deles se chama Nelson Rodrigues.
Na realidade ele não tem esse nome, eu o chamo assim pois ele é irascível, com fortes tendências à violência, bonitinho, mas ordinário, e foi com essa gama de virtudes que o trato por Nelson Rodrigues, o Peixe, que assim será chamado, doravante, para não ser confundido com seu homônimo escritor.
Enquanto três dos peixinhos dividem um aquário, Nelson Rodrigues, o Peixe, nadava soberano em outro aquário, visto que a sociabilidade não era a sua mais forte identificação.
No último final de semana, ao tratar dos bichinhos, o aquário tombou sobre mim, e nos vimos, eu e o Nelson Rodrigues, estatelados no chão da minha sala, ele se debatendo, como se lhe faltasse água, e eu inerte, estático, calado, como se me sobrasse água.
Meus ferimentos foram superficiais, mas sangraram muito, e num heroico gesto, joguei o bichinho no outro aquário...salvei uma vida, não é louvável?
Busco explicações para o acidente, não sei como um aquário pode ter caído sobre mim, eu estava sozinho em casa, as dúvidas me assombram, e até já pensei em vender meu piano de cauda, ele é pesadíssimo; se não encontro respostas plausíveis para o ocorrido, cheguei a ilações definitivas:
- Detesto banho frio;
- Antitetânica dói tanto quanto a Metamucil;
- Está sendo muito bom para o Nelson Rodrigues, o Peixe, o convívio com outros peixinhos;
- Se meu texto tivesse uma trilha sonora seria – Dançando na Chuva