Enigma
Ela surge entre as cortinas com seu olhar dominante, camuflando os gestos, confundindo minha mente. Uma vez que desaparece rouba minha respiração, fingindo desconhecer o efeito do próprio veneno. Parte com suas asas aguardando pacientemente por minha abstinência. Ela é águia, mas seu reflexo é de um lobo, suas cicatrizes é um caminho, um destino sem retorno. Estou dentro da armadilha, recebendo sua visita, não consigo decifrar seus movimentos. Cada dose é um território seu, resisto pedindo que não vá para onde meus olhos não alcance.
Em um descuido, deixa cair seu lenço, a face rapidamente desaparece. Se adaptou ao mundo e esqueceu de sua verdadeira natureza, uiva atrás dos montes perdida em seu cubo, o mundo tirou sua visão, e só restaram lembranças sombrias.
Imóvel em sua prisão, não posso salvar aquela que despertou meu vulcão adormecido, mesmo quando se vai, eu a vejo por todos os lugares. Descrevê-la é desenhar no escuro, as canções que ouço é o mapa do meu avesso, e ela está lá. Minha caneta dança decorando estas folhas em branco, não preciso tocá-la, sua presença é quadro em exposição, e passeia pelos meus sonhos pra me contar seus segredos.
Crepúsculo, mar agitado, estamos em silêncio olhando para o mesmo lado. Foi coroada declarando não ter mérito para estar no alto, mas as flores cobriram meu punhal, sua fragilidade é tudo o que consigo enxergar.