A SOLIDÃO DA MORTE

Hoje fiquei meio que analítico, diante de tantas coisas que acontecem na pluralidade do tempo discorrido, que às vezes penso que exista algo coagulado, quando pensamos em viver algo no singular. Acredito que tudo está passando bem diante de nossos olhos e eles estão ficando cada vez mais frios, diante dos acontecimentos, que ora se banalizam todas as horas dos dias pruridamente frios.

Ontem, estava assistindo um filme que no final da trama dramática, dizia uma frase de Buda com os seguintes dizeres : Aquele que está no inferno contínuo nunca morre. A longevidade é uma grande punição no inferno contínuo...

Achei esta frase de uma profundidade massiva., E pensei: A cada dia que nasce? Morremos um pouquinho mais. Vamos sumindo quais bolinhas cristalinas de sabão, que se espocam no ar. Colecionando rugas e rusgas no mundo. Mais de lá deste outro lugar (Se é que existe?!) Ninguém voltou para dizer o que é que tem e ou os mantém lá. Há uma lei velada, sutilíssima, entre estes dois mundos, Pois se voltar e disser que é bom. Haveria um suicídio em massa nunca antes revelado. E se dissessem que é ruim a previdência estaria em maus lençóis. E assim se a morte é um descanso muitos prefeririam viver cansados.

A cada aniversário ilusório que é comemorado, o bolo vai enganando os dias passados. As velas só aumentam com os anos e se acendem e se apagam, como um farol agourando as noites que se transformarão num grotesco funeral. Se apagam e se acendem no supliciante suspiro final. E assim vamos carimbando nosso passaporte dia-após-dia. Tudo silencia e noutro se inicia. As vozes vociferando sempre. O sinal do trânsito com suas luzes hipnotizando os cerebelos dos olhos céleres, a ânsia, a sofreguidão, nada para, tudo continua. Invicta mesma só a morte. E haja tanta vida indo embora pra que ela continue existindo...Como madeiras alimentando a fornalha. E a fumaça dos dias vão se dissipando no ar da estação. Corpos vão se encaixotando na hora certa e o que não se mistura não cicatriza, vira ferida aberta. Perdas, malditas perdas infernais, quantas ainda haveremos de perder, até a hora de nos perdermos por essas estradas tortas, cuja porta abre pelos dois lados da aorta, a que entra e a que sai...Por isso o melhor modo ou medo de amar é viver pra quem não nos deixa morrer de amor...

Uma coisa é a gente querer morrer por nós, a outra coisa é a gente querer viver por alguém. Não podemos perder o que não nos falta...

Sempre está muito perto a sensação de estarmos longe, Não é mesmo??

As aranhas conhecem bem seu território, sua grande arma é a invisibilidade de sua teia, ali caem os que "Deus deu asas para voar", e ela sabendo disso, prodigiosamente usou o vento a seu favor...

A música que toca em nossas cabeças, quando é fértil a sensação de estarmos sendo levados por uma correnteza, que não sabemos diagnosticar de onde vem... É aquela que diz assim. É pra lá que eu vou... que nem água indo pro ralo a sensação de estar nos puxando é qual a ruminação que quer por tudo pra fora...Somos ignorados por esta força. E o espaço que nos sobra é tão inútil como contratar um pedreiro sem obra. Alguns podem pensar que são eternos. Eu disse pensar.

Quisera pudéssemos entrar pela porta dos fundo sem ninguém saber. Perderíamos contato com todos e pior é que também não temos garantia de que os encontraríamos lá também. O velho ditado confrontando nosso presente. Tudo é de verdade menos nós. Desculpas pedimos, perdoamos nossos inimigos, mas, a morte tá ali, te rondando, te perseguindo, tá artificializando teu "modus operandis" de ser, e de viver.

Despeça-se antes que seja tarde demais para se despedirem de você.

Sei que hoje estou tão fértil com relação a morte como micróbio em água parada. Mais é esta a vida que estamos vivendo...Pra morrer Relaxa cabra que não tem reintegração de posse após o pó.

Por isso não me cobre, não fugindo do assunto tá bom???! É que me acostumei com a solidão, Não existe caixão pra almas gêmeas (ridículo!!!) Foi difícil encara-la, depois de olha-la no espelho, e depois ver que tudo que existia depois dele era eu mesmo. E encarei a solidão.

O almoço que eu fazia, o café que eu bebia, o copo de água fria que passei a beber todos os dias. Era anódina, insipida, mais é o que eu tinha pra matar minha sede. A solidão faz a gente criar cascas e cáscaras, ficamos tão só como vento circulando em convento. É remediando os males, remanejando as saudades, enfim. Nos acostumamos tanto com a solidão que a depressão faz "cosquinha" na palma da mão. Tudo passa a ter uma só estação, todos os dias da semana parecem um só. todas as esquinas do mundo, dobram perto de casa, Todos os lixos que levamos pra o lixeiro levar, tem o mesmo numero de sacos... Aquela esticada no cinema, vira a janela aberta. O fogão tem tanta boca que nos assusta, os pratos da cozinha, cabem num pires, Tudo é solitário e morto. Quase um cemitério e só não o é porque ainda estamos vivos. Esperando pelas velhinhas que só aumentam a cada aniversário. Até que o bolo cárneo sejamos nós mesmos velados. Como dizia Neruda. "O que é a vida se não um empréstimo de ossos..." Ossos do ofício. Voilá. A morte é mesma como a profissão mais antiga do mundo. Uma balzaquiana prostituta que feliz e ou infelizmente não escolhe pra ir pra cama com seus Éter-nizados amantes.

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 21/05/2019
Reeditado em 22/05/2019
Código do texto: T6653200
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