Ela é de verdade

Abruptamente um som, uma música. Desperta-a de seu descanso noturno. Ela estava meio que bem, meio que... Sei lá. Remexia-se na cama, envolta em seus cobertores. Já passara do horário de se Levantar. Seus passos cronometrados formavam melodias ao bater contra revestimento de madeira do chão. Vestiu-se. E andava pelo apartamento, na mão uma bolsa de maquiagens e um pincel, segurava-os com firmeza tal fossem armas de guerra. Depois de um caminho que parecia eterno chegou até o banheiro, e lá estava, o tão consagrado espelho. Enquanto lavava o rosto, ela avistou uma revista, jogada no cesto de roupas sujas. Na capa, uma mulher linda! Alta, pele limpa; lisa tal como porcelana e corpo escultural.

- Nem parece de verdade, é de mentira como uma boneca. Exclamava ela ao mesmo tempo em que vasculhava a bolsa de maquiagens.

Explorava dentro daquela bolsa de modo que se assemelhava a um arqueólogo em uma escavação histórica. E recrutava objetos para começar sua obra. Primeiro o corretivo. Corrigia cada uma das suas “imperfeições”, camadas generosas por cima das olheiras de quem tinha dormido mal. Em segundo a base, tornava a pele dela o mais próximo o possível da pele de porcelana das capas de revista. Depois sombra cor de rosa, realçava eu olhar. Entre infinidades de produtos dos quais se convertia em uma tarefa quase impossível decorar todos os nomes, ela tinha terminado, passou um batom, e pronto. Porém não havia ninguém para aplaudir, nem fotógrafos, e nem um editorial de moda, era só ela.

Na cozinha ela passava rapidamente, pois tinha medo de não resistir às tentações, comia o mínimo, só alface se possível. Pois abriria mão de seu amor próprio para caber em um amor chamado “jeans tamanho 36”.

E então era tudo, já estava tudo pronto era só sair, mas ela não conseguia se travou em frente à porta de saída. E, em um ato de euforia correu até o banheiro e enfiou o rosto debaixo da torneira. A pia branca se tingia de rosa, com a tintura que saía de seu rosto, e se mistura com as bolhas do sabão. Enxugou o rosto. Foi rapidamente até a cozinha, montou para si um sanduíche, e encheu um copo de sua bebida favorita.

Chegou até a sala apanhou o casaco no cabide, abriu a porta, sentiu o vento no rosto, saiu e sorriu. Por que ela era de verdade.

Nicolle Anttonieta
Enviado por Nicolle Anttonieta em 21/05/2019
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