Almoço com Macabéa

Sempre fui uma pessoa muito curiosa e, certo dia, me perguntei como seria ter um diálogo com Macabéa, isso mesmo, aquela do livro da Clarice Lispector, ela parece simpática e, para matar a dúvida, marquei um almoço com a figura. Antes que me digam que Macabéa morre no final do livro, a escritora desse texto aqui sou eu, para mim ela permanece viva e ponto final.

— Olá Macabéa, como vai? — Falei ao chegar no boteco, tentei marcar em um restaurante, mas sabe-se lá o motivo dela gostar tanto das comidas daquele local.

— Como vai? Pra onde moça? — A garota franziu a testa, parecia, genuinamente, confusa.

— Não esse tipo de “Como vai”, quis perguntar como você está. — Tentei explicar de forma paciente para ela.

— Não sei, só estou, por acaso a senhora acha que eu devia estar alguma coisa? — Macabéa me indagou com mais uma de suas questões complicadas.

— Mas isso nem faz sentido! — Confesso que estava perdendo um pouco a compostura, ela era mais complicada do que imaginei.

— A senhora me lembra o meu namorado, Olímpico de Jesus, ele diz que eu pergunto demais. — Fiquei irritada com a comparação que ela fez, era um absurdo!

— Não aceito ser comparada com ele, este homem é um canalha! — Respirei fundo, aquela conversa de apenas alguns minutos já estava me dando nos nervos.

— Não senhora, ele é metalúrgico. — Falava a garota, com todo o orgulho do mundo.

— Vamos almoçar, acho que é o melhor a se fazer, já sabe o que vai pedir? — Tentei mudar o assunto para que a minha paciência não fosse ao espaço.

— Cachorro quente e Coca cola. — Revirei os olhos com os pedidos, será que ela não comia nada além daqueles dois itens?

— Tudo bem, vou pedir uma porção de batatas fritas, meu apetite não está grande hoje. — Chamei o garçom e efetuei os pedidos.

Comemos, as duas em silêncio, eu apenas observava Macabéa limpar as mãos no vestido, com a cara de paisagem habitual. Resolvi retomar o diálogo após algum tempo, ainda que me custasse a paciência, minha curiosidade era insaciável.

— Então Macabéa, você conhece Clarice Lispector? — Aquela questão estava me matando, precisei perguntar.

— Conheço não, senhora. — Falou Macabéa, ainda com a boca suja.

— Como não? Ela que lhe deu vida, sabia disso? — Aquilo era uma catástrofe, quem não conhece Clarice?

— Não senhora, quem me deu a vida foi minha mãe, ela morreu quando eu era pequena, nem me lembro dela, quem me criou foi minha tia. — Lamentou a garota amarelada, bati com a minha mão na mesa, será possível, ela entendia tudo ao contrário.

— Garçom, pode me trazer a conta! — Dei aquele almoço por encerrado, paguei pelo meu almoço e pelo dela, ainda lhe dei mais um cachorro quente, apenas para não me sentir culpada.

E assim fui embora, andando pelas ruas daquela cidade que nem conheço, passei por uma cartomante na rua e acelerei os passos, imagina se ela me promete um futuro promissor e eu me vou como Macabéa? Prefiro evitar, por fim, em um lapso de lucidez me dei conta de que devo controlar a minha curiosidade, pois veja só no que me meti, aquela garota me tirou a paciência, embora gostasse muito dela no livro, não fui capaz de suportar a sua existência tão mínima pessoalmente.

A curiosidade matou, não só o gato, mas a minha paciência também!

Brenda Nascimento
Enviado por Brenda Nascimento em 20/05/2019
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