Crônicas de Pai para Filho - Família do pai, família da mãe
Toda família tem em seu núcleo central, um papai e uma mamãe.
O problema é que todo papai e toda mamãe tem parentes, que passam a fazer parte da sua vida, você gostando ou não.
Muitas vezes você acaba se vendo no olho do furacão das disputas familiares.
Na minha família, a disputa entre meu pai e minha mãe era sobre quem tinha os parentes mais excêntricos ( palavra menos pejorativa para denominar gente louca ).
Disputa que se tornou ainda mais acirrada quando de seu divórcio.
Tinhamos um tio por parte de pai, que durante uma mudança, jogou esposa e filhos na carroceria do caminhão, enquanto ia na cabine equilibrando uma panela cheia de óleo usado em frituras na noite anterior. Na sua cabeça, aquele óleo poderia ainda render várias frituras.
Minha mãe tinha um primo que apresentava um programa de mágica pelo rádio. Com ele, a "rádio Roquette-Pinto am 680" liderou os piores índices de audiência por 6 anos consecutivos.
Meu pai nos apresentou um tio que já havia sido preso mais de 200 vezes, sempre com uma identidade diferente. Ironicamente não me recordo seu verdadeiro nome. Descobrimos anos depois que ele sequer era da família.
A família da minha mãe, porém, destacava-se nas artes. Outro de seus primos compôs um poema que foi publicado em um livro de 3600 páginas. O poema só tinha 4 estrofes, porém ele era gago, e transferia a gagueira para o papel.
Aliás minha mãe tem uma obsessão por primos. Qualquer pessoa que ela tenha conhecido vai se tornar seu primo em algum momento. Ela jura ser prima de um primo de uma tia do renomado Major Vidigal ( ela nasceu no Rio de Janeiro ).
Meu pai rebatia jurando ser parente distante de Manoel Olivério.
Não satisfeitos em terem primos incontáveis, arrumavam primos para meu irmão e eu.
Primo Márcio era doppelganger do vocalista do Green Day.
Prima Janja foi processada três vezes por tentar vender o Pão-de-açúcar a turistas europeus.
Primo Jean foi o único candidato a vereador da história a obter votação negativa. Até hoje não se conseguiu explicar tal fato.
Em vários momentos da minha vida me deparei com parentes que jamais havia conhecido.
Em um kibutz próximo da região de Ein Gedi, me vi no meio de uma discussão entre dois primos que sequer conhecia. Um era sionista, enquanto outro era jordaniano. Minha mãe não sabia de quem eram filhos, mas teimava em dizer que eram primos por parte de uma tia libanesa.
O sobrenome que herdei de meu pai tão pouco me ajudava, pelo contrário, me rendia insultos e piadas nada engraçadas.
Na escola principalmente, pois as crianças sabem ser cruéis com as palavras de uma forma que os adultos jamais seriam capazes.
Sorte minha que sempre havia dois ou mais primos para me defenderem dos mais violentos.
Este texto mesmo, depois de publicado, já me rendeu telefonemas e telegramas de uns 30 primos e 45 primas dos lugares mais distantes do planeta.
Creio que até mesmo eu seja meu próprio primo em algum momento da minha vida.
Minha mãe jura que sou...