Companheiros de viagem - EC
A temperatura amena, duas cadeiras, uma varanda, a vista da pequena chácara apresentava o contorno oscilante das arvores próximas e das colinas ao longe. Ele olha a esposa ao seu lado, com o olhar na Tv ligada na sala. O cachorro sereno, debruçado em suas patas, vez ou outra abre os olhos para garantir que toda aquela paz é real.
- Isa, meu amor, quando será que os meninos vêm nos visitar?
- No final do mês, Carol quer fazer a festa do Rodriguinho aqui. Teremos a casa cheia.
Seu pensamento visualizou a foto de família, eram 35 agora: um quadro e tanto. Suspirou ao sentimento de gratidão que emanava do fundo de seu ser. A vida não lhe sorriu todos os dias, mas continuaram a caminhar entre as adversidades. Dias duros, noites felizes. Noites amargas, dias iluminados. Um ciclo incessante. Tantas vezes foi preciso calar seu próprio ego, para entender o sentir de quem caminha ao seu lado. Entender com paciência que haveria um motivo para as coisas não serem da forma e no momento em que queriam. Renunciaram tantas vezes a um prazer imediato, por crerem em um porvir melhor. E a luta contra a própria boca para não apontar, inutilmente, a falha alheia, e perdoar para que a vida seguisse sempre leve. E o auto perdão para todas as vezes em que não pode ser o herói que queria contar? Quem disse que é fácil ser feliz?
Levantou-se e parou no beiral da escada, encheu o peito de ar, mirou a Lua, redonda, brilhante e fascinante. Quantas vezes ela estivera ali, já o vira sofrer, já o vira gargalhar, cantar e até chorar. Lua de ciclos, de voltas, de mudanças, vida de aprendizado. Ela, que não tem data para concluir sua jornada, sempre retorna para conferir como ele está. Hoje repleto de paz e gratidão ele pode responder num sussurro que Ela escuta:
- Estou aqui, cada vez melhor! E você também!
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Uma Noite de Luar
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