Diário de Bordo (o Havaí é aqui.)
Diário de Bordo (o Haiti é aqui...)
Não passa de 4h35 da manhã de um dia de sábado e eu já estou mais do que desperto, depois de uma noite de sono regado a uma chuva intermitente e a marulhada cotidiana.
Com o roteiro já pré-estabelecido, junto na mochila o facão, uma marreta pra lidar com a cunha rebelde de minha enxada, tomo o banho matinal no Cururupe e me deixo cair em um mergulho profundo na trilha da mata a caminho da Pedra Branca. No meio do trajeto vou estendendo o meu olhar para as árvores, buscando identificar este ou aquele espécime, como o grau, um arbusto que parece um araca avermelhado. Nessa toada me deparo bruscamente com uma cena dolorida: uma imensa árvore decepada e abandonada no meio da trilha, mais um cadáver em exposição, fruto do descaso e do desrespeito que temos por nossas matas. Fui conferir a árvore derrubada e vi o enorme estrago em sua trajetória de queda, visão que me entristeceu ainda mais, e segui adiante para cumprir o propósito de plantar algumas canas, sementes de maracujá e dois chuchus que trouxe de Monteiro Lobato.
Passei algumas horas lidando na terra, tomei água da nascente e retomei o caminho de volta, agora por um outro rumo, pois pretendia passar pela casa do Noy e recarregar o meu tablet, companheiro inseparável em minhas andanças.
Enquanto o aparelho recarregava, ponho-me a conversar com o dono da casa sobre diversos assuntos, como plantações, desmatamento, conflitos fundiários, e outras trivialidades, uma forma de melhorar a minha interação com as práticas da região.
Entra um parente, sai outro, e a conversa vai fluindo...
"Noy, por que não se p,anta aqui as frutas próprias do terreno? Como melão, melancia, caju...?"
"Seu João, veja bem..." "Aqui, tem um mau hábito que é um plantar pra dez comer..." Me responde ele do alto de sua sabedoria matuta.
Nessas interações com os locais, descubro também que a caça é uma rotina entre eles, com cada família tendo vários cachorros treinados para essa atividade. Abate de pacas, quatis, caetitus, tatus tamanduás e outros animais são uma constante, sendo mais do que necessário um forte trabalho de conscientização para inverter essa prática.
Me armo de toda paciência que consigo juntar e explico, pela enésima vez, que criar o animal e mais inteligente do que caçar o mesmo, que o animal vivo tem u a enorme importância na economia do ambiente.
Bem. Tablet carregado, mergulho na estrada com a companhia luminosa de Semele e vou em busca do aconchego de Pasárgada.
Afinal, em Pasárgada tem de um tudo! É outra civilização.