Os olhos do meu pai
Meu pai tem olhos azuis. Olhos que eu queria ter, e que foram herdados por meu filho mais novo, que mesmo assim não tem nos olhos o brilho dos olhos do meu pai. Meu filho tem lindos olhos verdes...Minha filha mais velha herdou nos olhos a paixão morena do sangue latino, intensos e profundos em sua negritude.
Imagino como nos dias de sua juventude os olhos do meu pai eram como dois lagos tranqüilos, e mesmo do decorrer de nossa vida, nunca vimos turvar essas águas, mesmo durante alguns períodos difíceis pelos quais fatalmente ele passou.
Na placidez dessas águas calmas ele vem navegando esses oitenta e cinco anos, e agora desfruta o porto seguro da aposentadoria no seio familiar.
Quando jovem, meu pai, mineiro, deve ter tido o apelido de “Alemão” por seus cabelos loiros e olhos azuis, e com certeza deve ter sido um galã nos moldes da época...
Ao casar-se com minha mãe, morena catita, teve descendência variada, pois os gens dela, dominantes, combinados com os dele, recessivos, resultaram em dois filhos de olhos castanhos e uma filha de olhos verdes que muito ciúme causaram...
Diz o fado que olhos azuis são cruéis, e leais e bons são os castanhos... se assim for, meu pai é exceção à regra, pois leal sempre foi, e bom, que o digam seus ex-colegas do BANESPA... Crueldade foi coisa que ele nunca conheceu... Ao contrário, meu pai sempre transmitiu calma e serenidade onde quer que tenha passado, e ainda hoje nos brinda com a sabedoria que os anos lhe legaram.
E os seus olhos azuis sempre foram para nós, seus filhos e netos, como faróis a indicar o caminho seguro que leva à paz.