Dizem as más línguas, as boas estão nos mudos, que o universo conspira atraindo aquilo que merecemos. Claro que esse universo tem recebido denominações diversas, conforme as crenças em teorias desde o Big Bang ou até a existência de Deus. Deve ser por isso, que as histórias correm ao meu encontro ou atrás de mim, sei lá, mas o fato é que coloco o pé na rua e á em logo o conto ou prosa numa perseguiçao implacável. Airton Senna que o diga! Diga-se de passagem, sem nenhuma pretensão: - Universo, eu mereço mais! (gritei mentalmente)

- Jesus Cristo é o Senhor. Glória, Aleluia.

Respondi amém, nem prestei  muita atenção nos dizeres, mas se tinha Aleluia devia ser louvor religioso, concordei logo pra não render.

- Jesus Cristo manda uma mensagem para você hoje (olhando pra mim, a penúltima da fila), na palavra, as escrituras não mentem. Não se entregue aos prazeres da carne!

Sorri agradecendo, mas o açougue do Lalado, com uma fila enorme pra comprar chouriço e linguiça caseira, não era lá "essas coisas", pra falar de carne, a não se que fosse suína, bovina e aves. 

- Não somos animais e nem podemos agir como se fóssemos. A alma também é punida pelas cercas arrebentadas.

Peraí, doninha, estamos todos no mesmo acougue, esperando o boi degolado, e a senhora querendo falar das cercas da alma? Só faltou falar dos pássaros, das borboletas, de Noé (que devia ser não é da sua conta).

- O pecado está acabando com a humanidade. O culto ao corpo como se fosse um produto a ser colocado na prateleira, as roupas decotadas pondo à mostra as partes íntimas, as apertadas, desenhado as curvas. A mulher como objeto nas propagandas de cerveja e mostrando as nádegas no carnaval.

Nessa hora, o riso foi incontrolável. Apesar de que, vesti meu casaco, pra não fazer “nudes” da minha dignidade. "A fila anda", não era a máxima do açougue. O conceito de eternidade estava ali encostado no balcão e eu contando até 126 em algarismos romanos (só pra demorar na ilustração mental) quando ela:

- Se você quiser encontrar Jesus, essa é a hora. Amanhã o corpo pode ser absorvido pela terra e a alma ir parar no inferno.

Onde encontro esse tal de Jesus? Só pra constar. Preciso dizer a ele que a vendedora de espaço no céu que enviou não tem muito traquejo, filha. Se eu for você para de falar? Onde já se viu tamanha invasão de propriedade (açougue). Chamem o segurança. Botem essa mulher pra fora! Que viagem... A invasão era de privacidade (meu pensamento acelerado atirou até umas flechas mentais pra tentar atingí-la, mas Deus tinha um escudo)

- Quem é o próximo? Disse o açougueiro?

E lá ia, quando a doninha (carma, só pode) me segurou dizendo:

- Pode ser a sua última chance. O Senhor tem pressa.

Todos riram, inlusive eu, que a olhei com a mesma intensidade que me segurou e disse  como quem já tinha perdido a ponta do novelo:

- Pressa tenho eu. Acordei às 5. Almocei as 14. Deixei o trabalho as 17 e só quero comprar um quilo de costela que não é a de Adão que o Jesus usou para fazer você, se me permite. Não quero encotrar Jesus porque estou cansada e sem paciência alguma e posso chegar no Templo e virar tudo de cabeça pra baixo. E na “vibe”” que estou, pediria uma cabeça na bandeja, tipo Herodíades, conhece o Novo Testamento?

A mulher, coitada, olhou pra mim como quem enxerga uma ovelha perdida, entregou um folder da igreja: Só Jesus salva, repartindo também com todos na fila e ao sair, disse ao operador de caixa:

- Ela vem sempre aqui? Parece que não anda bem. Estressada, intempestiva, impaciente, coitada. Já tem sinais de loucura, só Jesus! 

E se despediu, se benzendo.

E eu que só queria comprar linguiça e chouriço, cheguei em casa com a costela na mão afirmando:
- Oh, louca você esqueceu o que foi comprar?!







 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 18/05/2019
Reeditado em 19/05/2019
Código do texto: T6650134
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.