OFÉLIA POLIGLOTA
Socorro! Salve-me quem puder!
Minha esposa teve um insight e resolveu aprender inglês num só dia. A mulher engrenou uma primeira, saiu patinando na pronúncia e só “stopou” a uma da manhã do outro dia. E era só terça-feira.
Depois confessou. Uma “miga” semi-americana ia dar aulas de graça. Não poderia perder esta chance.
Que bom! A rainha dos vocábulos homônimos e parônimos agora vai se exercitar na língua do Tio Sam. Tirando o aborrecimento de ter que estar corrigindo, corrigindo e corrigindo, tudo caiu muito bem. A família aderiu a ideia. Uma outra viagem internacional em família seria moleza.
Em 2016 quando fomos a Vegas a gente pecou por não saber a diferença do inglês para o francês. As meninas queriam ir às compras mas como há muito mais “toiletes” do que “outlets” , até saber quem era o quê, foi-se uma beirada de tempo perdido.
No último dia da viagem um caribenho gritou com a gente no táxi:
- Get out! Get out! Get out!!
Estava apertado por outros no estacionamento do hotel.
Eu entendi, mas a Ofélia permaneceu contando os cents para pagar a corrida. Quase apanhamos.
Em Porto Alegre no Novo Hotel ela foi posta à prova. Ligeirinha, adiantou-se quando saltamos do carro, deixando as bagagens para a filha levar. Ao aproximar-se da recepção ouviu a seguinte saudação:
- Senhora! Check in ou Check out??
Assustada, respondeu o de sempre:
- É no cartão! ...Meu marido é o caixa-forte.
Mas agora tudo vai ser diferente. E foi mesmo!
No dia seguinte a mulher acordou com o espírito do líder do big brother. O eliminado fui eu. Da cama e do apartamento. Missão urgente: fazer cópia clone da apostila de inglês pertencente a “teacher”. No dia seguinte a obrigação era gravar o CD do áudio do curso.
Sorte da Ofélia que tem um marido apaixonado. Para aprender tantas línguas já criei um roteiro internacional para ela ter aulas ao vivo. É promessa antiga.
Já em 2011 num artigo de jornal chamado “Racional ou Irracional” eu prometi a ela que a levaria a pelo menos quatro países diferentes. Tudo para declamar uma crônica poética chamada “Quero ser um Beija-Flor” que também teve encarte no jornal. Cairiam bem como moldura para o texto acima, San Pietro di Positano na Itália, Paris na França, Mônaco no Principado, Acapulco no México e, obviamente, Londres a cidade cinza.
Somente por aí já são quatro línguas diferentes, italiano, francês, espanhol e o inglês que ela já está detonando.
Quando findar esta excursão cultural ela nem precisará agradecer, mas poderá me dizer com a língua enrolada:
"Ti voglio bene"; "Je te veux bien; "Yo te quiero bien" e "Be well dear".
Poderá ser uma tarefa difícil. A Ofélia diz que vai surpreender. Só pára quando conseguir seu diploma de "tradutora juramentada". Quer trabalhar no Fórum. Já foi assim quando ela aprendeu a dirigir. Eu não duvido! É insistente.
Mas... se depois desta odisséia espacial toda ela não conseguir seu maravilhoso intento... Sem problemas.
Pode voltar para nós Of. Fica no portuga mesmo!
Trocaremos esse dom de línguas não correspondido pelas suas maravilhosas mãos de Midas.
Sim! Sim! Aquelas mãos pequenas são profundamente mágicas. Qualquer comida que ela planeja fica um prato delicioso. Feijão light, sopas e peixe. Qualquer comida que ela toca ganha um tempero fenomenal. Qualquer superfície atingida por suas mãos se tornam não só limpas, mas radiantes.
Em Blumenau a Ofélia já é conhecida pelo pseudônimo de "Brastemp".
Imagine se ela resolver combinar tantos talentos e tantas palavras estrangeiras.
Vai acabar fazendo um seguro internacional só para resguardar as preciosas mãos.