PEQUENOS CONTOS DE OUTONO - SOLIDÃO DE VACAS
Quando abriu a janela, a mata escorreu-lhe enferrujada ao seu campo de visão.
Forasteiro - o outono - havia pincelado o crespo das copadas em pequenos capões aqui e acolá.
[ Aos seus olhos a imagem sugeriu uma toalha imensa bordada em fios de ocre ]
Do que restara de tintas outonais, limpara-se o pincel na linha do horizonte em tons de caqui e céus eram panos de fundo ao traço indelével das revoadas de curucacas.
Fazia frio.
Araucárias contorciam-se e de seus braços franzinos arpejava uma canção dolente.
Enfiada num agazalho leve a envolver-lhe o corpo,era ela toda contemplação.
O ar que lhe entrava pelas narinas trazia cheiros de encantamentos.
Os cabelos ligeiramente grisalhos esvoaçavam ao vento.
Com gestos delicados,extremamente femininos,ela os ajeitava por trás das orelhas.
Tinha olhos de céu e dos sulcos da face emanava uma ternura imensa.
Pensativa,a mulher de olhos de céu espiava aquela manhã de domingo que raiara tão monótona quanto todas as manhãs de todos os domingos de sua existência.
Abafados de distância bolinavam-lhe os ouvidos o badalar de sinos.
[ Missa na igrejinha da aldeia ]
Por um instante percebera soar no peito os sinos de seu templo interior e um ligeiro aperto na garganta a fez mais reflexiva ainda.
Sentiu-se incompleta,vazia,minúscula...
Ao fundo do potreiro perfilavam-se cones de feno e,entre eles, o gado vadio ruminava a preguiça de dias iguais.
De quando em quando,as vacas mugiam. E os mugidos vinham numa espécie de lamento,na sensação de um extravasar algo que supostamente lhes consumia, lhes fazia triste.
A mulher de olhos de céu as ouvia atenta e apreensiva.
[ Era sem dúvida,uma solidão vagando na imensidão verde do pasto]
Era ela ,também ,uma solidão vagante entre as formas da janela.
De repente numa estranha analogia,equipara as solidões:A sua e a do pasto.
Então num longo suspiro desabafa com seus botões:
-Ah! Esta nossa “solidão de vacas”
Depois , em passos lentos busca a cozinha.Tomará o café com seus fantasmas.
Lá fora,o sol da manhã,derrama luzes sobre o ocre das folhas.
É outono!
Quando abriu a janela, a mata escorreu-lhe enferrujada ao seu campo de visão.
Forasteiro - o outono - havia pincelado o crespo das copadas em pequenos capões aqui e acolá.
[ Aos seus olhos a imagem sugeriu uma toalha imensa bordada em fios de ocre ]
Do que restara de tintas outonais, limpara-se o pincel na linha do horizonte em tons de caqui e céus eram panos de fundo ao traço indelével das revoadas de curucacas.
Fazia frio.
Araucárias contorciam-se e de seus braços franzinos arpejava uma canção dolente.
Enfiada num agazalho leve a envolver-lhe o corpo,era ela toda contemplação.
O ar que lhe entrava pelas narinas trazia cheiros de encantamentos.
Os cabelos ligeiramente grisalhos esvoaçavam ao vento.
Com gestos delicados,extremamente femininos,ela os ajeitava por trás das orelhas.
Tinha olhos de céu e dos sulcos da face emanava uma ternura imensa.
Pensativa,a mulher de olhos de céu espiava aquela manhã de domingo que raiara tão monótona quanto todas as manhãs de todos os domingos de sua existência.
Abafados de distância bolinavam-lhe os ouvidos o badalar de sinos.
[ Missa na igrejinha da aldeia ]
Por um instante percebera soar no peito os sinos de seu templo interior e um ligeiro aperto na garganta a fez mais reflexiva ainda.
Sentiu-se incompleta,vazia,minúscula...
Ao fundo do potreiro perfilavam-se cones de feno e,entre eles, o gado vadio ruminava a preguiça de dias iguais.
De quando em quando,as vacas mugiam. E os mugidos vinham numa espécie de lamento,na sensação de um extravasar algo que supostamente lhes consumia, lhes fazia triste.
A mulher de olhos de céu as ouvia atenta e apreensiva.
[ Era sem dúvida,uma solidão vagando na imensidão verde do pasto]
Era ela ,também ,uma solidão vagante entre as formas da janela.
De repente numa estranha analogia,equipara as solidões:A sua e a do pasto.
Então num longo suspiro desabafa com seus botões:
-Ah! Esta nossa “solidão de vacas”
Depois , em passos lentos busca a cozinha.Tomará o café com seus fantasmas.
Lá fora,o sol da manhã,derrama luzes sobre o ocre das folhas.
É outono!