O franciscano
Boca do Inferno
1. Conversando com um cronista amigo, perguntei-lhe, a queima roupa, o que o fazia escrever tanto e com ostensiva facilidade. Ele me respondeu com esta frase de Frei Beto, o conhecido e respeitado dominicano escritor: "Nada me dá mais prazer na vida que escrever". Bastou-me.
2. Como meu amigo e como Frei Beto, escrever também me dá desmensurado prazer. Escrevo todos os dias, preferindo fazê-lo na hora do crepúsculo. A maioria dos meus rabiscos, que chamo de crônicas, nasceu na hora do sol se pôr.
3. Não nego que dias há que chego ao crepúsculo sem um só assunto e se instala em mim o que pode parecer um descomunal desânimo. Não me deixo abater. Abro o meu Notebook, e saio procurando um bom tema para uma boa crônica. E ele logo aparece.
4. Hoje, por exemplo, alcancei a hora crepuscular praticamente sem ter sobre o que escrever. Foliei os jornais do dia e os atrasados, busquei minhas pastas de recortes, e nada. Minha angústia parecia aumentar ao se aproximar a hora do pôr do sol.
5. Realizando uma cuidadosa pesquisa, abrindo e fechando livros, deparei-me com um soneto de Gregório de Matos (1636-1696) sobre São Francisco de Assis. Não conhecia esse poema do Boca do Inferno. E nunca me dera conta de que, de sua atrevida pena, saísse um soneto seráfico.
6. Decidi que devia divulgar os versos franciscanos do Boca de Brasa. Trancrevendo-os na íntegra, estaria escrevendo minha crônica; neste final de tarde outonal, com muita chuva lá fora.
7. Ao receber o hábito franciscano - na Ordem Terceira - Gregório de Matos Guerra, filho ilustre da Bahia, versejou:
A São Francisco
Ó magno serafim, em que a Deus voaste
Com asas de humildade, e paciência,
E absorto já nessa divina essência
Logras o eterno bem, a que aspiraste.
Pois o caminho aberto nos deixaste,
Para alcançar de Deus também a clemência
Na ordem singular da penitência
Destes filhos Terceiros, que criaste.
A filhos, como Pai olha queridos,
E intercede por nós, Francisco santo,
Para que te sigamos, e imitemos.
E assim desse teu hábito vestidos
Na terra blasonemos de bem tanto,
E depois para o Céu juntos voemos,
8. Pronto. Eis-me aqui fazendo o que me dá "mais prazer na vida que é escrever". Em outro dia, escreverei, com o mesmo e declarado prazer, sobre outro poeta seráfico, Manuel Bandeira. Graças ao Manu, hoje rezamos e cantamos a "Oração de São Francisco". Aguardem.
Boca do Inferno
1. Conversando com um cronista amigo, perguntei-lhe, a queima roupa, o que o fazia escrever tanto e com ostensiva facilidade. Ele me respondeu com esta frase de Frei Beto, o conhecido e respeitado dominicano escritor: "Nada me dá mais prazer na vida que escrever". Bastou-me.
2. Como meu amigo e como Frei Beto, escrever também me dá desmensurado prazer. Escrevo todos os dias, preferindo fazê-lo na hora do crepúsculo. A maioria dos meus rabiscos, que chamo de crônicas, nasceu na hora do sol se pôr.
3. Não nego que dias há que chego ao crepúsculo sem um só assunto e se instala em mim o que pode parecer um descomunal desânimo. Não me deixo abater. Abro o meu Notebook, e saio procurando um bom tema para uma boa crônica. E ele logo aparece.
4. Hoje, por exemplo, alcancei a hora crepuscular praticamente sem ter sobre o que escrever. Foliei os jornais do dia e os atrasados, busquei minhas pastas de recortes, e nada. Minha angústia parecia aumentar ao se aproximar a hora do pôr do sol.
5. Realizando uma cuidadosa pesquisa, abrindo e fechando livros, deparei-me com um soneto de Gregório de Matos (1636-1696) sobre São Francisco de Assis. Não conhecia esse poema do Boca do Inferno. E nunca me dera conta de que, de sua atrevida pena, saísse um soneto seráfico.
6. Decidi que devia divulgar os versos franciscanos do Boca de Brasa. Trancrevendo-os na íntegra, estaria escrevendo minha crônica; neste final de tarde outonal, com muita chuva lá fora.
7. Ao receber o hábito franciscano - na Ordem Terceira - Gregório de Matos Guerra, filho ilustre da Bahia, versejou:
A São Francisco
Ó magno serafim, em que a Deus voaste
Com asas de humildade, e paciência,
E absorto já nessa divina essência
Logras o eterno bem, a que aspiraste.
Pois o caminho aberto nos deixaste,
Para alcançar de Deus também a clemência
Na ordem singular da penitência
Destes filhos Terceiros, que criaste.
A filhos, como Pai olha queridos,
E intercede por nós, Francisco santo,
Para que te sigamos, e imitemos.
E assim desse teu hábito vestidos
Na terra blasonemos de bem tanto,
E depois para o Céu juntos voemos,
8. Pronto. Eis-me aqui fazendo o que me dá "mais prazer na vida que é escrever". Em outro dia, escreverei, com o mesmo e declarado prazer, sobre outro poeta seráfico, Manuel Bandeira. Graças ao Manu, hoje rezamos e cantamos a "Oração de São Francisco". Aguardem.