Estamos vivendo no modo F... de Ser
 
Sair de casa hoje é um grande desafio, a impressão é que a cidade virou terra de ninguém e cada um faz o que bem entende. As calçadas são bloqueadas por lixo, blocos de cimento, pneus pintados fazendo de jardineira, tudo esburacado e sem qualquer tipo de preservação.
Onde caminhar? No meio fio, com os carros tirando fino e espirrando lama. Parece exagero? Temos duas cidades no Rio de Janeiro, eu vivo no de Janeiro, subúrbio depois do túnel que liga zona Norte e zona Sul. Vou falar só do lugar onde sobrevivo, nem vou mencionar a Baixada, zona Oeste.
Está complicado.

Imagine um lugar onde o asfalto cedeu em muitos pontos, são buracos imenso cheio de água parada e criadouro de mosquito; agora olhe para as esquinas onde montanhas de lixo estão amontoadas. Carros estacionados nas calçadas, sinais que ninguém respeita, e para piorar essa história a natureza resolveu dar uma força para o caos. Quando chove, é uma tragédia porque as águas não escoam e os bueiros estão entupidos; se venta as árvores caem e ficam dias, semanas no mesmo lugar. Galhos, pedaços de troncos, lixo e mais lixo.





Dirigir atualmente é desaprender tudo que você levou anos e anos praticando; as pessoas não respeitam os sinais, fazem manobras em qualquer lugar, batem e vão embora sem a menor preocupação. Vejo motoristas distraídos com o celular, falando e fazendo um monte de besteiras, colocando a vida do outro em risco, avançando cruzamentos, faixas e quase atropelando os pedestres.
Xingando os pedestres também, e nada acontece. Dizem que não há câmeras, quase não vejo policiamento nas ruas, dirigir virou um jogo de azar. Loteria sem prêmio ou ganhador.
Todos perdem. Todos estão perdendo.

Talvez tudo que estou escrevendo soe banal, de tão acostumados que estamos com essa realidade; mas não é natural e não é o que desejo para a minha vida. Qual o futuro vamos ter nessa montanha de lixo, sujeira e falta de educação e respeito? Os prédios estão depredados, abandonados, todo o sistema de saúde agoniza e a educação? A educação sem alimentação, a desnutrição das crianças e adolescentes, tudo isso vamos sentir no futuro que precisamos tentar melhorar;  através daquilo que estiver ao alcance, conectando vidas e agregando valor ao que for possível.
Nesse momento grupos  entregam alimento aos que estão nas ruas, oferecem banho solidário, roupas limpas e dignidade. Resgatam ainda que por alguns minutos o ser humano esquecido.  E o número de pessoas nas ruas aumenta, as ''cracolândias'' estão cada vez mais cheias, e tudo continua igual.
Vivo numa cidade abandonada. Isso é doloroso. 
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 14/05/2019
Reeditado em 14/05/2019
Código do texto: T6647267
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