Final feliz (Dia ganho)
Meu gas de cozinha acaba, geralmente, num domingo, logo cedo ou na hora de fazer o almoço. Lembrei desse fato, hoje, pois na hora em que fui fazer um café para o lanche, por volta das dezoito horas, chamaram no portão. Desliguei o fogo da água e fui atender. Não deu outra. Era uma dupla da Igreja Testemunhas de Jeová. Já fazia um tempinho que não apareciam e até estava estranhando a ausência, pois, apesar de espírita convicto, nunca recusei um papo amistoso de pessoas com idéias e convicções contrárias. E o legal é que, pelo tempo que essas visitas acontecem, pelo menos a metade dos seus adeptos já me conhecem. Hoje a dupla era de uma senhora com seus, talvez cinquenta anos e uma jovenzinha de seus dezoito com aparência de 15. Cumprimentos trocados e elas perguntaram se eu conhecia alguém com dificuldades auditivas; que a igreja tem um programa de ajuda a deficientes auditivos, com aulas de braile e LIBRAS. Na verdade esse é apenas o mote para começar a conversa, de fato. Como eu não conhecia ninguém com a deficiência o assunto descambou para outro tema. e é nessa hora que começo a me divertir. E começaram a falar do quão justo é Deus. Detalhe importante é que as duas falavam mas sabiam ouvir. Isso é essencial para que eu alimente a conversa. E foi uma boa conversa, principalmente porque, via de regra, quem fala da dupla é a pessoa de mais idade. A mais nova, geralmente, no máximo, quando muito, se tanto, balança a cabeça afirmativamente quando quem fala é a outra da dupla e balança a cabeça negativamente quando sou eu quem fala rss. Natural, né? Mas, dessa vez fui surpreendido pelo raciocínio rápido e eloquência da jovem. Firme, sem arrogância e frases decoradas ditas em voz alta para disfarçar a insegurança. A conversação levou uns bons quinze minutos. Até duraria mais, de bom grado, mas meu café já gritava, impaciente. Despedi-me das duas, satisfeito tanto com o papo quanto por ter conhecido mais duas almas simpáticas. Dia ganho e bem ganho.