Perdoem-me os afortunados por racionalidade, mas já sentiram saudade daquilo que não aconteceu? Das poucas coisas que a imaturidade me tirou, tem uma que vira e mexe faz sapateado no meu coração e a mente turbilha por alguns instantes: não ter tido a coragem de pedir à Inácio de Loyola Brandão um autógrafo e dizer a ele o quanto era sua fã e tinha lido ao menos duas dezenas de livros seus, senão todos.
Servidora pública, lotada na Educação, oportunamente fui responsável pela implementação do Projeto TIM Grandes Escritores na cidade. Projeto este que se tratava de um convênio com uma ONG Humanizarte, a partir do qual escritores fazim palestras na cidade e depois autografafam livros.
Tive a oportunidade de conhecer vários escritores : Adélia Prado, Marina Colasanti, Moacyr Jaime Scliar, e outros. Mas o "menino dos olhos" era ele: Inácio de Loyola Brandão. E não sei se por obra do destino fui designada para acompanhá-lo durante o dia todo, entre entrevistas e evento, como sendo o elo entre a equipe e a administraçâo pública municipal. Talvez este tenha sido o grande impecilho: estava em serviço e não podia agir como "Tiete".
Entre os vários eventos agendados para o dia, estava uma entrevista para a Rádio Educativa, cujo jornalista responsável era um grande amigo, Marilson Ottoni, lembro-me, inclusive, da roupa que vestia naquele dia, por também ser fã, estava vestido como se fosse "fazer um exame de fezes".
Muitas coisas foram ditas por ele, no auge de sua carreira, sobre cada um de seus livros, mas duas me marcaram profundamente: A primeira, foi quando ele disse do processo de construção dos textos, independente de serem contos, crônicas ou romances, que não nascia da noite pro dia, e o que o fazia escrever, era a disciplina: sentar-se para render (como poupança) diariamente, no mesmo horário; era isso que o tornava escritor, de fato, senão seria apenas mais um abusando do dom de colocar à serviço à capacidade inerente. Outra questão apontada por ele, a segunda, era sobre ideias, como ele lidava com elas. E foi taxativo o afimar, anoto tudo: no guardanapo de restaurante, na bula do remédio, na mão, na ausência da caderneta, é claro, que ele nunca se esquecia de carregar, ou seja, não dava esquema pra sorte, apenas era disciplinado com a escrita, que se tornou seu ganha pão.
E durante a sua apresentação, lembro-me, de ter ficado lado a lado com ele, por pelo menos 30 minutos, numa cena que mais parecia uma "adoração" silenciosa, o coração até palpitava, quando ele disse algo mais ou menos assim:
"Os livros mudam o destino das pessoas. Substâncias perigosas servem para acalmar ou tiçar; abrir novas possibilidades e nos fechar em universos circunscritos; estimular a ação ou estimular a prudênia. Mas o fato é que ninguém passa incólume a uma boa leitura. Entra-se de um jeito e a saída é de outro, mesmo sem que se saiba de antimão como sairemos."
E, num ímpeto de coragem que foi dividida pelo olhar socialmente correto dos que comigo trabalhavam, que impregnava certa auto culpa perguntei: por que escreve? E ele respondeu como se soubesse que eu também queria escrever:
"Escrevo para não enlouquecer. Para me divertir também, e para ter prazer. Tenho um prazer imenso em escrever. escrevo para me salvar. Mas me salvar do quê? Será que alguém sabe por que escreve, por que faz música? Porque alguma coisa empurra a gente."
E, nesta saudade, saúdo hoje a minha vontade disfarçada pelo ofício, que era mesmo de correr e dar-lhe aquele abraço apertado e dizer que vivia em luta comigo mesma, igual ao seu pernonagem de Dentes ao sol; ou que Zero era uma romance pra lá de especial; que de vez em quando, ficava tonta feito "Veia Bailarina" e tantos outros que estenderia muito esta crônica, mas, enfim, apenas aplaudi de pé, como se o reverenciasse por ser, por natureza, a sua maior obra.
Tiraria o chapéu por Inácio de Loyola Brandão, mais ainda, colocaria um tapete vermelho, porque quem escreve sobre a perda da identidade, o homem desumano, a natureza e a humanidade, com uma pitadinha de humor presente nas paródias, já é um ídolo! Por mais saudades assim, que conto. A literatura agradece e reverencia.
Imagens ilustrativas retiradas da internet reservados os direitos do autor da obra
Servidora pública, lotada na Educação, oportunamente fui responsável pela implementação do Projeto TIM Grandes Escritores na cidade. Projeto este que se tratava de um convênio com uma ONG Humanizarte, a partir do qual escritores fazim palestras na cidade e depois autografafam livros.
Tive a oportunidade de conhecer vários escritores : Adélia Prado, Marina Colasanti, Moacyr Jaime Scliar, e outros. Mas o "menino dos olhos" era ele: Inácio de Loyola Brandão. E não sei se por obra do destino fui designada para acompanhá-lo durante o dia todo, entre entrevistas e evento, como sendo o elo entre a equipe e a administraçâo pública municipal. Talvez este tenha sido o grande impecilho: estava em serviço e não podia agir como "Tiete".
Entre os vários eventos agendados para o dia, estava uma entrevista para a Rádio Educativa, cujo jornalista responsável era um grande amigo, Marilson Ottoni, lembro-me, inclusive, da roupa que vestia naquele dia, por também ser fã, estava vestido como se fosse "fazer um exame de fezes".
Muitas coisas foram ditas por ele, no auge de sua carreira, sobre cada um de seus livros, mas duas me marcaram profundamente: A primeira, foi quando ele disse do processo de construção dos textos, independente de serem contos, crônicas ou romances, que não nascia da noite pro dia, e o que o fazia escrever, era a disciplina: sentar-se para render (como poupança) diariamente, no mesmo horário; era isso que o tornava escritor, de fato, senão seria apenas mais um abusando do dom de colocar à serviço à capacidade inerente. Outra questão apontada por ele, a segunda, era sobre ideias, como ele lidava com elas. E foi taxativo o afimar, anoto tudo: no guardanapo de restaurante, na bula do remédio, na mão, na ausência da caderneta, é claro, que ele nunca se esquecia de carregar, ou seja, não dava esquema pra sorte, apenas era disciplinado com a escrita, que se tornou seu ganha pão.
E durante a sua apresentação, lembro-me, de ter ficado lado a lado com ele, por pelo menos 30 minutos, numa cena que mais parecia uma "adoração" silenciosa, o coração até palpitava, quando ele disse algo mais ou menos assim:
"Os livros mudam o destino das pessoas. Substâncias perigosas servem para acalmar ou tiçar; abrir novas possibilidades e nos fechar em universos circunscritos; estimular a ação ou estimular a prudênia. Mas o fato é que ninguém passa incólume a uma boa leitura. Entra-se de um jeito e a saída é de outro, mesmo sem que se saiba de antimão como sairemos."
E, num ímpeto de coragem que foi dividida pelo olhar socialmente correto dos que comigo trabalhavam, que impregnava certa auto culpa perguntei: por que escreve? E ele respondeu como se soubesse que eu também queria escrever:
"Escrevo para não enlouquecer. Para me divertir também, e para ter prazer. Tenho um prazer imenso em escrever. escrevo para me salvar. Mas me salvar do quê? Será que alguém sabe por que escreve, por que faz música? Porque alguma coisa empurra a gente."
E, nesta saudade, saúdo hoje a minha vontade disfarçada pelo ofício, que era mesmo de correr e dar-lhe aquele abraço apertado e dizer que vivia em luta comigo mesma, igual ao seu pernonagem de Dentes ao sol; ou que Zero era uma romance pra lá de especial; que de vez em quando, ficava tonta feito "Veia Bailarina" e tantos outros que estenderia muito esta crônica, mas, enfim, apenas aplaudi de pé, como se o reverenciasse por ser, por natureza, a sua maior obra.
Tiraria o chapéu por Inácio de Loyola Brandão, mais ainda, colocaria um tapete vermelho, porque quem escreve sobre a perda da identidade, o homem desumano, a natureza e a humanidade, com uma pitadinha de humor presente nas paródias, já é um ídolo! Por mais saudades assim, que conto. A literatura agradece e reverencia.
Imagens ilustrativas retiradas da internet reservados os direitos do autor da obra