E SE FOSSE VOCÊ?
Uma realidade cortante que dói na alma dos que lá estão, quando se chega para visitar ou ajudar. O silêncio é estarrecedor de quem faz questão de não se lembrar de quem fora um dia. Em suas faces desbotadas e abatidas pela dor e o sofrimento, o grito vem da alma.
A dor estampada naqueles semblantes sofridos é logo percebida pelos que conseguem enxergar além do corpo físico envelhecido de milhares de seres humanos que vivem em asilos e casas de repouso, sejam particulares ou do governo. O efeito é o mesmo, pois na visão da humanidade, esta é a melhor opção para seus familiares que sempre alegam não ter condições de cuidar, quando na verdade tal medida é uma boa e conveniente forma que muitos usam para se livrar do parente idoso. Não digo que são todos, de modo algum desejo generalizar, mas muitos usam deste artifício esdrúxulo e infame, que infelizmente se torna a cada dia mais frequente.
Lá foram deixados de uma forma ou de outra e a justificativa é a de não ter condições de cuidar ou ficar com seu idoso. A maioria é deixada nessas instituições e esquecida pelos familiares. Assim é a triste realidade de milhares e milhares de idosos.
Falo por experiência e vivência, pois frequento algumas dessas instituições. Faço trabalhos voluntários e sinto a emoção de perto na convivência com eles.
E muitos me contam a sua história de vida, ter alguém para ouvir seus relatos ou suas histórias é motivo de alegria para eles. Enquanto corto os seus cabelos, vão me contando o que aconteceu e o porquê de estarem vivendo ali.
A maioria tem parentes, filhos, filhas, irmãos etc., mas num dado momento da vida desses parentes, o idoso não cabia mais em suas vidas; virou um peso (fardo) para o familiar e sendo assim a melhor medida foi levá-lo para uma instituição de idosos.
Cada um com sua história de vida, de sofrimento e abandono. Aquelas pessoas que um dia contribuíram tanto para o bem da sua família, para o seu país, fizeram história. A maioria criou filhos, netos, bisnetos e tantos sonhos fizeram acontecer. Mas, envelheceram e perderam a serventia sem dar-se conta de que um dia seu final seria um asilo ou casa de repouso.
De manhã uma amiga me confidenciou que já toma conta de sua mãe e por várias razões não tem como cuidar da sua tia. Desabafou todos os motivos e o porquê da decisão de levar sua tia para uma dessas instituições que segundo ela é muito boa e confortável. O fato é que por mais razões que tenha para tal decisão, foi inevitável a minha reação de tristeza e desengano.
Por ter conhecimento de causa, comecei a argumentar na esperança de convencê-la a resolver a situação de outra maneira, evitando levar sua tia para a tal casa de repouso. Neste ínterim o idoso já perdeu sua identidade e autonomia, já não pode opinar nem fazer nada. O seu destino é obscuro; nada mais vai fazer sentido em sua vida, e a ele só resta aceitar o que já foi decidido.
A conversa continuou e o meu mundo emocional desabou. Tentava convencer a amiga, contudo, chegou uma hora em que tive de pedir licença; parei de falar com ela, pois não conseguia mais manter a conversa; as lágrimas caiam incessantemente. Sentia a dor e o desengano. A tia da amiga seria mais uma na estatística dos levados para a casa de repouso sem ter o direito de escolher. Imediatamente passou um filme na minha cabeça, lembrei-me de tudo o que presencio no dia a dia de um asilo; de como é doloroso ser deixado para trás e já não fazer mais parte de sua família ou da sua casa onde viveu toda uma vida. Neste momento estava me colocando no lugar dela, vivenciei na pele dói mais que navalha na carne. Quer saber como é? Ponha-se no lugar do outro. Nesta hora não sobra mais nada e essas pessoas se tornam invisíveis aos olhos da humanidade.
Meu Deus! Como dói pensar nesta visão da realidade dos que estão passando ou já passaram por esta decisão de seus familiares. Pergunto-me por que tem de ser assim? Cadê o amor, a paciência para com quem cuidou de você durante uma vida inteira e se sacrificou, dando a sua vida para cuidar dos filhos e da família? “Agora não nos serve mais, vamos dar um jeito nele (a)”. “Vai ficar bem, é um bom lugar para ele (a)”. Assim cada dia são abertas mais e mais casas de repouso, alguém tem de cuidar desses idosos e nada melhor para isso do que abrir casa de repouso, as casas de repouso se tornaram o negócio do século.
Que as novas energias como prometido, vieram nesta nova esfera terrestre, cheguem de fato para transformar os corações humanos; que haja uma catarse universal de amor que transforme os corações da humanidade. Avalie, pense, tente e encontre uma solução antes de aderir à ideia de colocar seu idoso numa casa de repouso. Hoje é seu parente, amanhã poderá ser você. A vida é uma troca, o que fazemos hoje sem dúvida voltará amanhã. Saiba que tudo tem volta e nada passa impunemente à Lei Divina. Pense nisso e que o amor de Deus invada seu coração! Mais amor, por favor! Vamos ter consciência de que aqui tudo passa, tudo morre e só o bem que fizermos e o amor que doamos vai na nossa bagagem espiritual. Vamos cuidar mais dos nossos idosos, dar mais valor à vida, porque cada um de nós deverá prestar contas de seus atos e ninguém ficará impune.