MEMÓRIAS
Eu sou do tempo em que um bilhete de voo doméstico dava ao passageiro direito ao pacote completo de viagem: poltrona reclinável, bagagem sem limite, refeição com três opções no cardápio (carne, peixe ou massa) e toalhas quentes para higiene das mãos. Tudo mediante tarifa única. Todos pagavam o mesmo preço e tinham os mesmos direitos.
É verdade que houve uma época mais chique ainda, em que poucos podiam subir aos céus, nas asas da PANAIR, e lá em cima eram obsequiados com vinhos, licores, caviar, cascatas de camarão, tudo servido com guardanapos de linho, talheres de prata e copos de cristal. Coisa de cinema.
Mas... o tempo passa, o tempo voa, e hoje em dia a compra de uma passagem só me dá o direito de entrar no avião. Mais nada. Como se eu pudesse viajar em pé. Todos os serviços foram fatiados. Começaram cobrando pelos assentos da frente, mais confortáveis. Ninguém falou nada. Agora, as companhias reduziram os espaços entre eles e cobram por todos. Para pôr seu traseiro em qualquer poltrona você paga.
Hoje a tarifa é inflada pela venda do assento e do transporte da mala no compartimento adequado, como se a bagagem tivesse vida própria. Ou seja, uma escandalosa operação casada, proibida por lei. E a ANAC não fala nada.
De graça, atualmente, só um copinho com água. Pela metade. Até o biscoito com gosto de borracha é cobrado.
Nesse ritmo, e diante do silêncio da ANAC, só falta agora a cobrança pela utilização dos banheiros. Você entra naquele minúsculo, chacoalhante e claustrofóbico espaço e vai pagar, por exemplo, as seguintes tarifas: R$30,00 para fazer o nº 1 e R$50,00 para o nº 2. Ou então use um fraldão ou bolsa de colostomia, de recente memória.
A minha sorte é que, na próxima viagem para Brasília, vou visitar o Supremo Tribunal. Lá, como a Irene do Manuel Bandeira, eu entro sem pedir licença. Vou sentar-me em confortáveis poltronas e, no fim da sessão, espero comer uma deliciosa lagosta acompanhada do melhor vinho francês.
Aguardem. Depois eu compartilho as fotos com vocês.