DERRAPADAS DE SOPETÃO
Tem vezes em que entro em cena
só pra fazer gargalhar,
ou pra fazer ignorar,
e outras pra fazer agoniar,
sofrer sem gritar chega!
Se virão aplausos desse show,
se vaias prevalecerão,
se esquecerei minha fala,
sei lá... sei lá.
Adoro ficar na coxia dos pensamentos,
cantinho nas sombras do qual aprecio tudo.
De lá vejo meus engôdos, câimbras, rasgos,
lapsos, derrapadas de sopetão.
Esse palco, minha vida, apura o que trago,
incrustado nas catacumbas da alma,
no olho do meu furacão.
A cada instante me reviro, me disseco,
desarmo, destruo e me dou vida de novo.
Vou assim gestando meus fantasmas,
figurantes anônimos do meu chão,
que tanto arranham as certezas,
descabelam minhas verdades,
cambaleiam meu tudo.
Não há viés diferente pra não morrer,
meu oficio é refazer tudo sem recuar,
descobrindo remendos, tombos,
engasgos triunfais.
O consolo de ser poeta
é pegar as palavras que vêm do nada
e as fazer rodopiar, cambalhotar, rir de si próprias.
Esse é o maior trunfo desse ofício de Deus,
se mostrar desnudo pra si próprio,
se fazendo verdade com todas ciladas
que eu adoro armar pra mim.