AULA EXPERIMENTAL DE YOGA

Estava tudo combinado. Dias antes meu amigo e vizinho de rua havia repetido o convite para uma aula de YOGA, a qual já praticava há alguns meses. Tendo em vista o princípio do “mens sana in corpore sano” fui atraído para esta armadilha.

A visita ao Mestre Sádhana, entretanto, foi prefaciada por um ritual urbano. Ninguém melhor do que Saint-Exupéry para definir um ritual: “aquilo que torna uma hora diferente das outras horas, um dia diferente dos outros dias” (O Pequeno Príncipe págs. 52/70).

E foi, de fato, algo diferente do ordinário. Uma bela caminhada urbana, serpenteando por dois ou três bairros distintos, inclusive pelo centro, com passos e cadência registrados no aplicativo do celular de meu amigo. Para complementar a caminhada aeróbica, conversas variadas, desde saúde até projetos de redução do trabalho. Experiência de vida sobrava: “um ex dragão e um ex especialista de aeronáutica”. O que se poderia esperar? Para rechear nossa qualidade de vida, só mesmo aulas de Pilates e Yoga.

Meu amigo Arildo foi integrante dos Dragões da Indepêndencia, pelotão de elite da guarda presidencial em Brasília. Aqueles palacianos, bons de cavalaria, roupa branca desenhada por Jean Baptiste Debret e penacho no capacete. E eu? Bem! Ainda arrisco cantar o hino do especialista de aeronáutica, dos bandeirantes do ar e dos aviadores, tudo como lembrança dos saudosos 13 anos em que permaneci nas fileiras da FAB.

Às 07:20 horas já estávamos na porta da casa-estúdio. Meu amigo nos anunciou e, imediatamente, o anfitrião abriu o portão, verbalizando lá de dentro um NAMASTÊ! No aplicativo do celular, o Arildo mostrou-me, 3.540 passos, na medida média de “passo de dragão”, 82 centímetros. Senti-me feliz. Já estaria bom para começar o dia.

Dentro da casa uma atmosfera bramaniana, vidraças e luz energizante. O Mestre, muito acolhedor e falante, uma figura singular. Na primeira olhada era uma mistura de faquir hindu com adolescente cabeludo e corpo magérrimo. “Uma pessoa bem resolvida e com conhecimento da sua profissão”, avaliei.

De forma natural já fomos conversando e puxando cada qual seu tapete. Nem me lembro do Arildo ter falado o nome do mestre, mas isso nem teve importância. Entre outras coisas ele perguntou de minha saúde, como estava a condição para a prática naquele momento. O Arildo já o conhecia bem, mas eu fui muito franco de cara.

- Mestre! Joguei um salãozinho ontem, que virou um salaozão! Uma hora de correria com jovens de 30 anos e muita pancadaria. Ah! e sem reservas para trocar. Estou todo cheio de dores musculares.

Então o Mestre Sádhana me tranquilizou. Deu várias explicações e fez uma linda introdução sobre os objetivos da prática YOGA, a preservação da energia corporal com o máximo de performance, a ampliação dos limites pessoais, o uso adequado da respiração e os valores vitais.

Então começamos os exercícios. Não queria tirar a concentração dos amigos, mas como de praxe, eu já me conheço, uma hora iria pô-los para rir. É que eu sou uma “criança revestida com pele de adulto”, “um mero disfarce” desenhado pelo tempo.

Os primeiros exercícios de Pranayama eu estava indo bem. São respiratórios, repleto de detalhes. Estranhei um deles de resistência. Era engraçado. Parecia que a gente era um berrante vivo. Mas fiz!

Depois vieram os exercícios de flexibilidade. Há os que imitam uma “cobra”, “um peixe” e outros animais. Mas como tinha falado no início que já fora da Aeronáutica, não pode faltar o exercício de equilíbrio do “aviãozinho”.

Mais para o final da sessão já estávamos exaustos. Então vieram os exercícios finais de relaxamento. Teve um sentado, o agachado e assim por diante.

Quando o Mestre determinou o relaxamento decúbito dorsal eu relaxei mesmo... Só sei que tinha uma mão tocando em mim já umas três vezes. Levantei o corpo assustado... Oi!... oi!

O Arildo sussurrou:

- Já trocou duas vezes o exercício!

Olhei meio com vergonha para o Mestre, ele estava rindo.

Finalizada a sessão o Arildo revelou a graça do homenzinho:

- Este é o Caio!

Imediatamente o Mestre se soltou, contou resumidamente sua história de vida. Trabalhara como publicitário e, paralelamente dava suas aulas de YOGA. Mas sua paixão e o seu fogo devorador era mesmo a YOGA.

E eu disse a ele que havia sido aeronauta e agora servidor público, mas minha real paixão era a esposa e ESCREVER CRÔNICAS.

E assim eu e o Arildo nos despedimos do Mestre, agradecendo por esta bela manhã. Na volta fizemos um “debriefing” desta minha primeira aula.

Na altura dos 3.480 passos de volta, o Arildo seguiu para seu apê e eu fiquei no Novo Paladar, para tomar um café no FIADO.

Professor Caio e amigo Arildo, NAMASTÊ!

Queridos leitores, NAMASTÊ!!!