PALAVRA INÚTIL. ESCREVER.
O homem escreve para sobreviver, profissionalmente. Como arte por imposição do espírito,e também por certa utilidade e lazer.
Desses pilares se extrai proveito ou vazio. Uns tiram de escrever e ler o pão de sua sobrevivência. A arte já não favorece por vezes quem por esse caminho passeia suas ideias de muitas espécies. Khalil Gibran, que reputo ter escrito um dos maiores livros da literatura universal, O Profeta, ficou conhecido um século depois de falecido. Sustentou-o por muito tempo sob certo constrangimento uma amada mulher.
As palavras que motivaram o pensamento e o alimento da sobrevivência continuam sendo grafadas. E também ditas em discursos, saídas das piores bocas e de grandes assassinos, ou de virtuosos interiores, como os grandes pacifistas. Mas palavras o “vento leva”, ecoa a máxima popularesca.
As que ficam pouco ou quase nada serviram às grandes causas por tempos atemporais. Algumas mudaram a história, como a oralidade de Jesus absorvida ao menos em intenção pelos grandes e inócuos movimentos humanos, como a Revolução Francesa, que alterou hábitos políticos, mas não permaneceram como fundamentos plenos estáveis.
Ouve-se ainda sonante e forte como definidora matriz, abrindo a janela das almas no refúgio das mentes sadias, rasgando do nascente ao poente sua íris à luz do sol, também as palavras de marcante e nenhuma efetividade lacradas de vontade em 1948, na Convenção das Nações pelos direitos humanos. Lá estava Jesus. Sempre não acatado.
Tentar entender a grande angústia humana que voa da higidez à depressão na frustrante busca de sua paz. Ninguém a pode entender. O claustro interior tem um só dono. Só ele conhece as sombras e as cortinas que cegam a luz.
O surgimento da vida, seu desaparecimento, esse movimento sagrado e único e suas origens, gera aflição aos mais desaparelhados que não compreendem suas fragilidades.
Na passagem breve da certeza do pó e do tudo, ver algo mais que um salto no escuro, o desconhecido com seu milagre infinito, seria ascender à transcendência impossível.
E muitos ainda acham que palavras estão em patamares de solução, mesmo sem visão do pretérito, recusada a história por falta de percepção, outros dispõem sobre acessórios nada conhecendo do principal. A águia caça nas alturas por poder enxergar mais, a cobra rasteja e espreita, situa a presa pelo calor do corpo, enxerga pouco.
Palavras rastejam, se perdem, pouco edificaram. A íris, da altura do cérebro,na visão que transporta a química do coração, muda realidades.
Abraçar a generosidade, entender o existir não existindo, a passagem frágil e volátil exposta como clara. Está aquém da vontade e além da razão.
Aceitar a aceitação que é o não-ser, mas é inevitável, eternizado no passo breve e nas pegadas longas. Nada que existe deixa de existir, somos o efeito de uma causa maior.
Palavras não mudarão essa ordem inatingível por primárias incursões. É da ordem histórica.