O ADJETIVO

Ele é o tempero da redação... Pode ser picante, salgado, azedo, amargo, doce ou suave. Se a mensagem for de tristeza, nos faz chorar; se for de alegria nos faz sorrir. Isso mesmo, ele tem o dom de nos entusiasmar ou nos deprimir.

Ele está para a redação assim como a maquiagem está para o rosto de uma mulher. Se bem dosada, a deixa linda, exuberante, charmosa; ao contrário, deixa-a feia, grosseira ou até ridícula.

Morfologicamente falando, ele não tem vida própria, depende de alguém de quem ele fala, bem ou mal. Sintaticamente, é apenas um adjunto ... e ainda só adnominal. Está lá para ajudar, mas se não estivesse também não faria tanta falta. Dá impressão de que é algo sem serventia.

Tadinho, ele sofre de complexo de inferioridade. Sente inveja dos demais companheiros de classe gramatical, especialmente do substantivo e do verbo, que se julgam importantes, pois a todo o instante são intitulados de Núcleo... Núcleo do sujeito... Núcleo do objeto... Núcleo do predicado. O fato de serem essenciais, transforma-os em elementos soberbos, pomposos, insolentes e arrogantes. Não lembram que se tornam elegantes e distintos, quando vêm abraçados com o adjetivo, um parceiro que eles tanto menosprezam e que não é núcleo de quase nada. Ainda quando tem determinada relevância, o chamam de predicativo que soa como um predicado pequeno, de segunda categoria.

Mas meu camarada, você é o maestro, dita o tom, dá o ritmo. Para mim, é mais significativo do que o artigo e o numeral. Você é autêntico. Não é como o pronome que fica camuflando os outros. Você é flexível: vira homem, vira mulher, se multiplica se necessário for. Alguns de seus amigos – a preposição, a interjeição, o advérbio e a conjunção – são duros. Flexibilidade zero. Parece que nunca foram a uma academia. Diferentes de você que tem jogo de cintura, se adapta ao clima, se amolda à circunstância.

Um texto sem adjetivo pode estar gramaticalmente correto, mas convenhamos não tem graça nenhuma. Deve ser frio, sem glamour, insípido. Daqueles que dói em qualquer ouvido com um pouco de sensibilidade poética. Talvez caiba em um edital público, em um ofício de um executivo que não tem tempo a perder, em um requerimento judicial sem necessidade de convencer algum magistrado ou em um expediente de um burocrata perfeccionista apenas preocupado com o cumprimento das normas. No entanto, ele jamais será dispensado por um poeta quando sua inspiração aflora. Afinal, todo o escritor que se preza, abusa de seus préstimos.

Claro que, às vezes, você também sabe ser cruel. É maldoso, irônico e até agressivo. Machuca, ofende, humilha. Fico aborrecido quando age assim.

Então amigo, não se subestime... Você é o fascínio, o charme, a glória. Você que detalha o encanto das pessoas, a beleza das coisas, as maravilhas do mundo. Você é o CARA. Você é nada mais nada menos que o

“SENHOR ADJETIVO”