A Casa da Luz Vermelha
Nos tempos da juventude desvairada, andando pelos puteiros do Alecrim, um bairro famoso na época dos bregas românticos, falei para o meu fiel escudeiro Domício:
- Veja, Domi, um puteiro novo!
- Onde?
-Ali em frente, com a luz vermelha na sala, vizinha à Zefão. Vamos ver se tem mulher nova.
Entramos na casa. Uma sala sem nada (só com a luz vermelha), sem som nem indício de alma viva. Cadê as mulheres, Domi? Pegamos o caminho de um corredor sombrio, sem movimento, sem ninguém. Que brega mais fuleiro, Domi! Passamos em outra sala, outro corredor, e de repente... a cozinha! Paramos assustados.
Duas velhas e um velho conversavam ao pé do fogão a lenha. Uma, estava com uma caneca de café na mão, a outra, lavava os pratos numa bacia, e o velho acendia um cigarro de palha num tição. Eles também se assustaram. Perguntei:
- Ô, minha senhora, cadê as putas?
- Aqui né casa dessas coisas não, meu filho - respondeu a que tomava café.
- E a luz vermelha na sala?
- Ah!, meu filho, é que a minha lâmpada queimou e a vizinha me emprestou essa luz vermelha.
- Minha senhora, faça isso não. Desligue essa luz e feche a porta da casa antes que chegue um bêbado cheio de direito.
Saímos dando risada pra abafar o susto. Se fosse hoje, certamente seríamos recebidos à bala.