Meu caro adolescente

Enquanto esperava o meu lanche vir, observei um grupo de adolescentes rindo e observei um em questão não tão à vontade assim. E vou te confessar: ao observar aquela cena, eu me senti um pouco velha. Sério, eu via aqueles rostos risonhos e sem preocupação e me lembrei da época em que eu era assim também. (Armaria, estou tão nostálgica). E, éguas, me faz parecer uma velha de oitenta anos.

E isso me fez refletir algumas coisas.

Quando se chega aos 23 anos, você não pode dizer que já é um adulto (porque tecnicamente você é e não é), mas não pode mais usar aquela velha desculpa de que errou por ser “novo demais” (essa não cola mais). A adolescência é a fase em que se começa a pensar no que vai ser quando “crescer”, mas sem muita pressão, pensamos que temos tempo. Todo o tempo do mundo.

Contudo, meu caro adolescente, não dispomos de todo esse tempo. A verdade é que nós, pessoas de mais de vinte anos, fomos os adolescentes de outrora. Imaginamos como seriamos na vida adulta e fizemos nossos dramas juvenis. Eu ainda consigo me lembrar como era as piadas e micos. Das dores que você chora escondido. E das gargalhadas soltas sem medo. Consigo ver em você o desejo insano de ser aceito pelo grupinho popular e o nervosismo de passar no vestibular.

E, meu Deus, quando que eu imaginaria que ia olhar para você e querer te dar conselhos? Até porque quando se tem 23 anos, não mais 15 anos, você tem certeza que não sabe nada do mundo. Aliás, aprenda isso (ou não, você é adolescente), quanto mais velho fica, menos você parece saber da vida. Você começa a questionar mais as coisas (não tanto com a teimosia de outrora), a mudar de opinião e se adaptar as circunstâncias, a se propor ouvir os argumentos dos outros antes de bater o pé (acredite, é um aprendizado). Caramba, eu olho para você e meu desejo é sentar contigo e te avisar tudo que já aprendi com a vida, mas sei que você não me escutará e ainda revirara os olhos.

O que quero que você saiba mesmo é: tenha cuidado. Tenha cuidado com quem você anda e, principalmente, com quem você se torna quando está perto das pessoas. Não importa onde esteja, com quem esteja, seja você e não quem esperam que você seja. Isso causa muita dor. Seja amigo de quem quiser e desgosto de que quiser, todavia não deixe que te mudem. E não deixe de lutar pelo que acreditar. Seja firme em seu caráter. Não negocie princípios.

Se vale a dica, conserve os amigos da escola. Você vai sentir falta deles e eles são os que te conhecem quando você, realmente, não tinha uma personalidade formada. (E, olhe, quando reencontrá-los será tão gostoso e será como se não tivessem se afastado – eu conservo meus amigos e sou bem mais feliz por isso). Conserve ao seu lado apenas os poucos e bons amigos (não dá para ser amigo de todo mundo). Largue essa vontade de ser popular. Ser o nerd vai abrir mais portas quando tiver a minha idade.

Mais uma coisa: o mundo não gira ao seu redor. Gira ao redor do sol. Isso quer dizer que, se quer algo, corra atrás, pois nada vai cair no teu colo e ser entregue de mão beijada. Você precisa ser ousado e corajoso. Seus pais não estarão sempre ao teu lado e os outros não estão nem aí para os seus sonhos (só compartilhe sonhos com quem realmente ficará feliz por ti). Logo, deixe algumas diversões de lado e se dedique a algo produtivo (é chato, mas super necessário).

Não tenha medo do futuro. No fim, ele nem é tão assustador assim. Ele só vira um monstro sob a perspectiva que você adota. Se suas escolhas derem errado, você pode voltar atrás, basta se propor a isso. Escolheu a faculdade errada, tenta outra. Não gosta do emprego, muda. Porém, faça-o consciente de que cada ato tem uma consequência. Então seja consciente em cada escolha, não se leva por modinha e nem seja refém do conformismo.

A última reflexão que deixo é que: as dores da adolescência vão passar. O coração partido do primeiro amor, cicatriza. O medo de não ser aceito, é superado. As inseguranças vão diminuindo com o tempo. Dores e decepções você ainda conhecerá profundamente (e não vai gostar), mas aguente firme, tudo na vida passa. Eu sei, parece papo de velho. Pode ser. Contudo, como eu disse: eu fui você outro dia. Chorei, sorri, tive medo e inseguranças. Mas estou aqui. Em pé. Vivinha da silva. Seguindo a minha vida. Você acredita em mim? Espero que tudo dê certo para ti.

Meu lanche chegou, tenho que ir.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 04/05/2019
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