JOANA D'ARC, UMA SANTA DIFERENTE - PARTE III
6---AS VIDAS SECRETAS DE JOANA - Vida já contada de inúmeras formas, todas impressionando pela intensidade dramática, exemplo de estória histórica que virou lenda: peça de teatro de BERNARD SHAW e 25 versões no cinema, incluindo a de CARL THEODOR DREYER, muda, em 1928; a de VICTOR FLEMING, em 1948, com INGRID BERGMAN; a a de OTTO PREMINGER , com JEAN SEBERG, em 1957. ----- A biografia "Santa Joana D'Arc", de VICTORIA SACKVILLE-WEST (poeta-romancista-paisagista inglesa) confirma impossível uma narrativa desinteressante. ----- Durante cem anos os ingleses tentaram se unir a França, sob a coroa deles. Usaram justificativas de hereditariedade e depois a força das armas. Foi nesse contexto que nasceu JOANA em pequena vila no norte da França, em 1412, filha de camponeses - viria a ser uma mistura de aldeã, soldado e santa. Aos 12 (ou 14?) anos, passou a ouvir vozes celestiais, acreditando que São MIGUEL e as Santas CATARINA e MARGARIDA confabulavam com ela, que teria sido escolhida por Deus para libertar o país do domínio inglês; para isso, precisava convencer CARLOS VII de sua missão divina e receber o comando de um pequeno exército, libertando Orléans do cerco britânico. Lá, intimou o inimigo a se render......... e lógica e inexplicavelmente ele se rendeu. Aumento do prestígio da camponesa, crença em seu poder sobrenatural. A segunda parte seria sagrar e coroar CARLOS VII, enfraquecido, em Reims como rei da França - conseguiu mais este feito, reerguendo o espírito combalido dos franceses. Porém, foi ferida na tentativa da retomada de Paris, e aprisionada pelos borguinhões (partido dissidente francês que virou a casaca para o lado dos ingleses) no ataque a Compiègne em 1430. Nenhum dos inimigos quis executá-la sumariamente, objetivo de chamuscar sua auréola de santa, obtendo condenação num tribunal eclesiástico - assim, condenada a morrer na fogueira por heresia-blasfêmia-idolatria-feitiçaria, no dia 30 de maio de 1431. Novo processo em 1450 decidiu por sua total "reabilitação", pura ironia! - canonizada por ato do papa BENTO V em 1920. ----- O projeto de SACKVILLE-WEST era concentrar-se na figura de JOANA, reduzidas ao mínimo as referências políticas - sem esgotar a palavra final, buscou a verdade através dos vários matizes de sentimentalismo e romance: partiu da constituição física para estilhaçar os estilhaços que seriam adotados por Hollywood. Visão prosaica, sensata e lógica da escritora. Feições comuns (não a beleza da atriz sueca), era atarracada e musculosa (não frágil como a atriz estadunidense), cabelos curtos e pretos, tez escura e bronzeada. Aparência de garoto, mas voz de mulher e lágrimas fáceis - atacava implacavelmente o -inimigo e depois chorava por vê-lo ferido. Não sabia ler e só escrevia seu próprio nome. Força repousava equilibrada entre a sagacidade do camponês e a inspiração do místico. Escritora interpretou os mecanismos de uma jovem ao mesmo tempo mal informada e miraculosamente sábia e não se posicionou nem crédula nem cética diante do tema, foi pouco taxativa, visando sempre o lado humano da personalidade histórica, em algumas passagens com explicações racionais para o imponderável. Fascínio pela biografada sem descrição das batalhas: "Não livro militar", disse. - Fonte: "As vidas secretas de Joana" - Rio, jornal O GLOBO, 17/4/94.
F I M