JESUS E EU: O MADEIRO QUE ME CRAVOU

Não consigo mais, nesse costurar de nada sei, apontar para qual tribo possui o dom da Verdade Oculta.

A Torá rasura no universo de minhas ideias informes o valor do homem para o seu Jeovah que, bem amando-o em sua liberdade, arrancou-lhe das ataduras do deserto e sentenciou nas entrelinhas de Deuteronômio as mil e uma possibilidades: "Faça como quiserdes"!

As tábuas em pele de carneiro do Alcorão redesenham um Maomé irresoluto em suas revelações que duraram por 23 anos. O Projeta de Alá, em cada sura dedicou-se a sonhar o seu povo em sintonia com o Criador. Al-Inshirah vivifica um desejo sagrado.

Os artigos, tambores e vestes sacerdotais das religiões de matrizes africanas despertam em mim uma consciência da ordem natural das coisas. Meu coração bate forte ao ver a estima que tem o povo negro pelas delicadezas que a vida simples e em contato com a natureza oferece.

De igual modo, louvo a intenção dos espíritas em auxiliarem os mortos a encontrarem a luz e compreendo em Blavatsky a não-fragmentariedade da existência dos deuses, nessa dimensão.

A Arte oferece subsídio para todos os deleites e experiências transcendentais. É ela a entrada triunfal para o encontro com o divino.

Só sei que nada sei é o desvelamento da única coisa que me resta: resignar-me em minha insignificância e incapacidade de contemplar a infinitude do saber. Todos nós somos marionetes e atores de um teatro em que nos cabe interpretar, sentir, notar olhares e ver baixar as cortinas da peça.

Eu só sei que nada sei e disso não abro mão. Sou um ignorante, por completo e tenho orgulho da minha ignorância. Meu olhos vivem na escuridão. Meus olhos são negros como a pelagem da graúna. Meus olhos são buritis, meus olhos são veredas nas noites que não possuem luz. Meus olhos estão no tempo da hora nona.

A única coisa que eu tenho em mim e que nunca se apagará é a marca da Cruz. Eu não resisto, eu não venço, eu não viro às costas à Cruz. Não há músculo no meu corpo que não bata mais forte, não há dente que não tilinta, não há pálpebra que fricciona quando lembro-me da Santa Mensagem.

Meu Jesus não é militante social (apesar de suas belas lições sobre a importância de respeito ao próprio e misericórdia). Meu Jesus não é fundador de religião (apesar de ser raiz etimológica para quase 2 bilhões de pessoas no mundo). Meus Jesus não é apenas um Enviado. O meu Jesus é o lado de mim mesmo que não suporta ver os homens em vias dolorosas, meu Jesus é o relicário de minhas lembranças sagradas que o dom da vida propiciou. Meu Jesus é o meu tendão e o meu osso; meu nervo e minha lágrima; minha porção e minha fome.

Meu Jesus é verbo, eu advérbio: É + Eis.