Um tanto quanto pretensioso estava ele naquele dia. Veio remexer nas gavetas tão bem arrumadas nos últimos anos. Sem cheiro de mofo, sem umidade e no fundo, um papel manteiga para evitar contato direto com o que tinha guardado.
Veio com ar autodidata, como se as escolhas dependessem somente dele. Invasivo que só, trouxe umas imagens em preto e branco, guardadas a sete chaves, debaixo do tapete vermelho pulsante entre sistólica e diastólica.
Aquela menina que cantava fuscão preto, retratada naquelas imagens, nasceu num lar onde a família era o único alicerce. Conheceu bem cedo a palavra controle para evitar desperdício: cada centavo era um número a menos no valor líquido, visto no holerite impresso em papel recortado, tão usado por ela como rascunho.
Aprendeu também que Deus a resguardava ao longe, mesmo caminhado por aquele longo trajeto até a escola, sem companhia. A mãe que sofria de preocupação, vivia se munindo de calmantes, o que a impedia de tomar sorvetes gelados nos fins de tarde de domingo.
Era o presente que por um deslize ia voltando no tempo e mostrava para aquela menina de sonhos doces empacotados em caixinha dourada que tudo passa, inclusive a necessidade de guardar algumas tralhas, porque não é à toa que passado se escreve assim.
Imagens ilustrativas retiradas da internet reservados os direitos do autor.
Veio com ar autodidata, como se as escolhas dependessem somente dele. Invasivo que só, trouxe umas imagens em preto e branco, guardadas a sete chaves, debaixo do tapete vermelho pulsante entre sistólica e diastólica.
Aquela menina que cantava fuscão preto, retratada naquelas imagens, nasceu num lar onde a família era o único alicerce. Conheceu bem cedo a palavra controle para evitar desperdício: cada centavo era um número a menos no valor líquido, visto no holerite impresso em papel recortado, tão usado por ela como rascunho.
Aprendeu também que Deus a resguardava ao longe, mesmo caminhado por aquele longo trajeto até a escola, sem companhia. A mãe que sofria de preocupação, vivia se munindo de calmantes, o que a impedia de tomar sorvetes gelados nos fins de tarde de domingo.
Era o presente que por um deslize ia voltando no tempo e mostrava para aquela menina de sonhos doces empacotados em caixinha dourada que tudo passa, inclusive a necessidade de guardar algumas tralhas, porque não é à toa que passado se escreve assim.
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