DIREITO À EXTRAVAGÂNCIA
Hoje, pela manhã, recebi de uma prima (via WhatsApp) um texto de Rachel de Queiroz, em que afirma que o neto é, realmente, nosso sangue. Nele, Rachel diz que nossos filhos tornaram-se mulheres e homens cheios dos problemas de adultos e que, em um belo dia, sem nenhuma agonia da gestação ou do parto, um bebê nos cai nos braços "completamente grátis. É um filho que nos é devolvido". E mais, a escritora permite-nos (grande Rachel!) o direito de amar com extravagância, numa espécie de compensação de nossas perdas trazidas pela velhice.
Na data de hoje, acompanhei minha filha para a realização de uma ultrassonografia antes do parto, em que trará à Luz o Matias. Parto este que se aproxima.
O último exame dessa natureza, a que tive oportunidade de assistir, foi exatamente comigo e ela, a Carla, como protagonistas do evento. Ela no meu ventre.
Agora, a filha prestes a ser mãe, protagonizando outro espetáculo. Eu ali, coadjuvante.
Muitas coisas mudaram nos 28 anos passados. A nitidez das imagens na tela é impressionante, a tecnologia evoluiu espetacularmente.
A única coisa a permanecer e que endossa a verdade de Rachel de Queiroz é a emoção. A da avó de hoje é igual à da mãe de tantos anos atrás.
Ao ouvir a força daquele coraçãozinho pulsando, vieram-me lágrimas felizes. Marejaram-me os olhos. Com as vistas turvas, não tive a menor vergonha da possível extravagância e, com autorização de Rachel, chorei quietinha. Meu coração "estalou de felicidade, como pão no forno".
Dalva Molina Mansano
30.04.2019