Borboleta-se...

A gente aprende a gostar da gente quando o terremoto chega e assistimos atônitos um monte de pessoas soterradas, casas se desmoronando em segundos e no chão corpos, daí temos certeza do quão importante é viver e lutamos com todas as forças para não morrer à míngua.

Nessa hora a lembrança faz um “tour” e a gente se acha importante: - não posso morrer, misericórdia! Quem vai cuidar dos meus pais, dos meus filhos, dos meus irmãos. Como se você fosse único (e é). Mas não consegue perceber quando está viciado em ter segurança e não é só a segurança material não, falo de carência afetiva mesmo, que é uma espécie de vício capaz de causar danos irreversíveis.

O amor não é barganha e nem pode ser usado pra trocar moedas com ou sem valor, o amor é sentimento nobre, capaz de abrir a gaiola do peito e deixar fluir os sentimentos sem querer tê-los de volta, para aprisioná-los, deixando-os sem vida.

Então a grande tônica é olhar pro outro como sendo pássaro livre que procura se alimentar conforme suas necessidades e não como um balão de oxigênio, à beira da morte por um colapso respiratório. Lembrando que necessidade tem muito a ver com o valor que damos às coisas e às pessoas, tudo de acordo com o contexto, e os princípios que são a base da construção do caráter, que acabam sendo revelados de forma abrupta, aliás a ausência deles é que revela as pessoas.

Tudo passa! Clichê meteórico. Passa o tempo, passam as horas, passa a vida como se fosse um balão de gás e você fica ali amarrando nos dedos pra não correr o risco de vê-la voar.

Para aquilo que não tem como mudar, o remédio é aceitação, resignada. Para as outras coisas, vamos por parte, sem pressa, pra não sair atropelando de novo, as pessoas, o tempo, a própria vida, numa autodepreciação.

De tudo que foi, guardar as lembranças, como um livro antigo, enciclopédia, que traz à tona conceitos que sofreram mutações e hoje tem novos desenhos enigmáticos.

A Fênix não ressurgiu como se fosse magia. Ela superou os medos, se viu de longe, arrastando feito lesma no chão, mas foi lá e fez do rastro uma asa. Difícil vaca dar leite, impossível diria, se não for lá pra tirar.

Superar não é meta, é alternativa, escolha. Vai doer, sim! Vai sangrar, sim! Vai fazer barulho, sim! Mas vai ter liquidez com gosto de vitória, porque vencer aquilo que você não controla é digno de troféu.

E se no caminho tiver alguém tentando te dizer que o amor é flor roxa, muda de rumo. Primeiro que você não é daltônico (e se for sublima as cores), segundo que você não é trouxa. Vai pintar flor roxa de vermelho e ver no fundo, uma história que te arrancou o peito algumas vezes, mas você foi lá e colocou no lugar, porque coração é terra que só se ara quando se conhece, valoriza, o contrário, vira deserto, na secura de uma alma que tem brio de lavanda enlameada.

Não dá pra respirar ar puro ficando em usina contaminada. Vai buscar reforço na escritura, na ciência, no canto do passarinho, na fossa, mais sai dessa inércia. Você não tem “pinta” de árvore e nem faz parte do acervo de um museu, “borbolete-se” e sai por aí vendo flores concretas, as rosas naturais morrem e as flores artificiais são Fake.

Vida que segue, mesmo quando o amor adormece mais cedo. Faz uma serenata pra lua, um luau para estrelas, abre o melhor vinho e brinde: você é inteira, sem cortes.

 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 28/04/2019
Reeditado em 29/04/2019
Código do texto: T6634358
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