Alberto Panciroli...

Estima-se que sobre a Terra haja quase 8 bilhões de habitantes
Então porque me senti tão sozinha
Diante dos livros da estante?
Naqueles dias em que todo mundo grita
E você até que tenta mas não sai a voz
Sentei-me em frente da escrivaninha do senhor Richard Foxe
Bem na crônica intitulada " O Barbeiro Comunista"
Talvez na ânsia de encontrar alguém
Que simplesmente fosse humano
Independentemente das cores da camisa
Mas com caráter por sob o pano
Foi então que Alberto Panciroli descobri
Minuto raro em que verdadeiramente eu sorri
Em 1930 Alberto vem ao mundo
Num lar humilde mas com sentimentos profundos
Ainda menino não gostava muito de ir a escola
Mais seus olhos já brilhavam diante de um livro
Enquanto os garotos de sua idade brincavam com uma bola
Seus pais com pouca instrução
Visionários já sabiam que só o conhecimento
Livra o mundo do estigma do circo e do pão
Ainda jovem Alberto abriu a barbearia
Ofício nobre que o sustento lhe garantiria
Com sua tradicional porta de vidro
Recebendo com simpatia e cordialidade
Aqueles que ousavam dizer...eu duvido!
Apaixonado pela literatura
Emprestava livros a estudantes que não podiam pagar
Em Colorno na Itália a vida também era dura
Mas ele acreditava que através da leitura
As condições da agricultura e da pesca poderiam melhorar
Exemplares escondidos sob o balcão
E uma mentalidade livre se multiplicando num mundo em expansão
Diante de toda modernidade
Se dissermos o que sentimos nos chamam de patética
Imagine naquela época
Possuir livros cujo tema era os Estados Unidos e a União Soviética
Ao se aposentar e ver os filhos criados
Deu finalmente vazão ao que sentia
Conhecimento e livros por todo lado
A barbearia se transformou numa livraria
Na Praça Garibaldi, 26
Ele recebia como um velho amigo cada freguês
Orientando a todos sem distinção
Fazendo gosto no contato com as pessoas
Independentemente da política, nacionalidade ou religiâo
Pois se queremos um mundo melhor
Devemos começar pelo pequeno mundo ao nosso redor
Em novembro de 2018
Os olhos do homem que sonhava com a liberdade
Foram lentamente se fechando...
Deixando no meu peito apenas a dor da saudade
Diante do seu funeral
Um aúdio seu se fez presente
Onde ele como num capítulo final
Tinha como epitáfio
A grandeza de ser gente!
Sobre o caixão
Sua foto no porta-retrato como despedida
Do homem que com um livro na mão
Soube escrever a história de sua vida...






                                                     


Alberto Pancioli não teve conhecimento de minha existência nessa vida, mas isso não tem importância. Toda vez que meus dedos tocarem a textura de um livro ele estará vivo dentro de mim, e isso para mim é o que é realmente importante... 

Ao colunista da Gazeta de Parma Cristian Calestani, que embora nunca irá ler ou saber de minha existência, deixo  aqui meu agradecimento e respeitoso carinho.
Ao meu amigo e nobre escritor Richard Foxe deixo minha gratidão eterna, e uma sensação de que ler com os olhos, com a alma e com o coração ainda vale a pena.
Raquel Cinderela as Avessas
Enviado por Raquel Cinderela as Avessas em 27/04/2019
Reeditado em 28/04/2019
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