Dezembro; dezembros...

Dezembro; dezembros... Se bem me lembro, foi num dia de dezembro que tudo começou... Sim. Foi justamente em dezembro que o nosso Criador escolheu para ser o ponto de partida de uma nova era para a humanidade; a Era Cristã.

A Era Cristã, que hoje é parte essencial da história universal, teve como o seu ponto de partida, ou seja; o seu início, justamente aquele dia vinte e cinco, daquela quarta semana do mês de dezembro, dia que ficou reconhecidamente famoso por ter sido nele que o Filho de Deus se fez homem e habitou entre nós.

E tudo isso é muito intrigante, pelo menos para mim, porque até hoje ainda não encontrei uma resposta convincente para seguinte pergunta: Se foi a partir da chegada d’Ele que teve início a ‘Era Cristã’, por que aquele primeiro dezembro -início da Nova Era- não começou a ter os seus dias contados a partir do Seu nascimento? E mais; por que razão o mês de dezembro ficou marcado como o mês do fim-de-ano, se na verdade foi quando tudo começou? Não seria mais coerente que fosse ele; dezembro, o primeiro mês do ano? Sem respostas...

Mas ‘deixando de lado’ este meu jeito meio incongruente de ser, posso afirmar que, pelo menos para mim, dezembro é muito mais que especial; dezembro é tempo de começar.

Sim. Definitivamente, dezembro é real e literalmente o tempo de começar, pois foi justamente em um mês de dezembro que eu embarquei, ou me embarcaram; sei lá, no décimo segundo carro desse nosso conturbado ‘trem da vida’...

E é por isso que dezembro é tão importante para mim.

Dezembro; dezembros...

São tantos dezembros já por mim vividos que a princípio eu não conseguia atinar para fato de que tantos dezembros já se tivessem passado, levando com eles tanta gente querida, tantos amigos e conhecidos... Enquanto que eu, por aqui ia ficando; ficando nessa estação da vida simplesmente ‘olhando dezembro passar’...

Até que teve um dia em que um sentimento de marasmo conseguiu me incomodar um pouco, resolvi então arguir o meu próprio eu, fazendo a mim mesmo a seguinte pergunta; por que tantos já se foram e eu ainda continuo por aqui; forte e firme? Que fiz eu para merecer essa graça de viver? É óbvio que não consegui encontrar uma resposta plausível. Então simplesmente decidi eleger o mês de dezembro como um mês super-especial; não apenas somente pelo fato de que foi nele que eu cheguei a esse mundo, mas principalmente porque foi nele que ELE também chegou. E como ELE é atemporal posso afirmar tranquilamente, com a alma lavada e o coração em festa: “-Chegamos juntos!”. Penso que esse fato foi mais que suficiente para acalmar o meu coração. E é certamente por isso que me encontro ainda nos dias de hoje aqui neste nosso novo/velho mundo - ou não seria o contrário?- vivenciando os meus dezembros, procurando nos arquivos da minha mente, de alguns deles me lembrar. Mas já lá se foram tantos e tantos dezembros levando minhas lembranças, que confesso; já não é assim tão fácil, de alguns desses dezembros lembrar...

Dezembro; dezembros...

Dezembros vêm e dezembros vão... Esta é a ordem natural da vida.

Interessante que hoje em dia parece até que os dezembros vêm e vão com muito mais rapidez que nos tempos de outrora; na aurora de nossas vidas...

Podemos até comparar os dezembros como sendo o último dos doze vagões de um, de dois trens; ‘o trem da vida’ e ‘o trem do destino’, que simplesmente por nós vão passando, sendo que às vezes param, embarcando ou desembarcando alguns passageiros nesta que é a nossa plataforma da vida.

Interessante que quando ocorre o desembarque, seus passageiros são geralmente recebidos por tenros braços maternos, que carinhosamente os enlaçam...

Confesso que hoje em dia é com muita alegria que vejo o ‘trem da vida’ chegar trazendo novos dezembros para esta vida alegrar...

Mas não me iludo jamais, porque sei que chegará o dia em que outra composição, também formada por doze carros, na estação da vida vai parar. E aí então, quando esse dia chegar não vai ter jeito; quando esse ‘trem do destino’ parar e a minha, ou a sua, senha chamar, o embarque é obrigatório; não adianta chiar. Não vai adiantar chorar, pular, gritar ou espernear. Nesse dia “não vai ter choro nem vela” -a não ser para quem ficar- o negócio é embarcar e aguardar o destino final que nos espera e que só nos será revelado logo após a transposição da grande curva; chamada ‘curva da morte’.

E ao contrário do ‘trem da vida’, que segue sempre adiante; o fúnebre ‘trem do destino’ some de vista logo depois da tal ‘curva da morte’ onde existe uma bifurcação que se inicia logo após uma outra estação, aonde todos os passageiros são desembarcados e após passarem por uma rigorosa triagem, são reembarcados em outras duas composições que os levarão para um dos dois distintos destinos; uma delas deverá levá-los por belíssimas planícies e vales floridos onde, para aqueles abençoados não mais existirão vulcões, dilúvios nem terremotos, mas somente reinará a Paz Eterna, já a outra composição

os conduzirá através de um escuro e turbulento caminho subterrâneo onde só se ouvirão choro e ranger de dentes. É a estação final para aqueles que nesta vida preferiram escolher o lado do mal, aqui nessa nossa estação da vida.

Mas enquanto para mim o dia desse embarque não chega; enquanto a minha senha não é chamada, eu por aqui vou ficando curtindo os meus dezembros. E na Paz de Deus, vou procurando desfrutar deste dom maravilhoso que Ele mesmo me deu e vou assim tentando, dentro da melhor maneira possível, aproveitar tudo aquilo de bom que a vida oferece.

Dezembro; dezembros...

Dezembros que vem; dezembros que vão...

Dezembros que trazem alegrias; dezembros que deixam saudades...

Foram tantos dezembros felizes! Outros tantos, nem tanto...

Mas para aqueles felizardos, que como eu, por aqui ainda se encontram nesta estação da vida, curtindo os nossos dezembros e dando ‘tchauzinho’ a cada passagem do ‘trem do destino’, convém ficar bem ligado em uma dica bem quente; se prestarem bem atenção, verão que de uma das janelinhas de qualquer um daqueles seus doze vagões e antes de dobrar a curva da morte, tem sempre uma mãozinha acenando, como que profetizando; estarei lá te esperando...

Portanto te cuida, meu caro, e veja bem o que você anda aprontando, porque na próxima parada a sua senha pode ser chamada e o seu embarque é certo. E bem lá depois da curva tem dois trens já esperando; em qual deles vais entrar?

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