ESTÓRIAS CARIOCAS ACRONOLÓGICAS - PARTE IX

1---RIO BRANCO, a mais carioca das avenidas... apesar de calçadas esburacadas, poluição e engarrafamentos. Durante o dia, milhares de pessoas circulantes.

2---Chamava-se avenida Central, iniciadas novas obras em 1904 pelo engenheiro PAULO DE FRONTIN (aquele mesmo da 'água-em-seis-dias'... - sem milagre: verão/1888, final do Segundo Reinado). Inspirada na Paris da Belle Époque, concebida e executada pelo prefeito PEREIRA PASSOS. Caminho ligando a praça Mauá a avenida Beira-Mar, dois extremos importantes. ----- Por que a reforma do centro recebeu o irreverente carioquíssimo apelido de "bota-baixo"? Ah, triste desapropriação-demolição de mais de 700 casas, dando lugar à imensa avenida (mão dupla?) com canteiros centrais, jambeiros e pau-brasil. ----- Nessa gestão, diversas ruas foram abertas, alargadas outras, porto modernizado, cidade ficou mais bela, obras representaram o progresso almejado pela 'recente' República, agora nação brasileira dita como civilizada. (Apesar de... eternos problemas com a falta de saneamento da maioria dos bairros e 'grilos' com os sistemas de transportes.) A construção da avenida foi usada como pretexto ao combate a epidemias: varíola, febre amarela e tuberculose que proliferavam nos cortiços, casebres, até quarteirões inteiros, povo demagogicamente expulso do centro da cidade - na verdade, o ataque a cortiços vinha desde 1890, demolido o Cabeça-de-Porco, atrás da área da estação ferroviária Central do Brasil. Povo vacinado em massa, esforço do sanitarista OSVALDO CRUZ, com invasão das casas pelos agentes de saúde - vacinar esposas e filhas, na ausência do 'machão', ultraje pela tradição paternalista da ´época... População se rebelou, e neste mesmo 1904 aconteceu a histórica Revolta da Vacina, com 30 mortos e cerca de 100 feridos. (Preconceituoso boato popular até hoje nos lugares mais remotos do país: "Vacina do governo é para matar!") ----- Novas formas arquitetônicas, construídos o Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional de Belas Artes e o Palácio Pedro Ernesto (Câmara dos Vereadores). Destruído o antigo, pouca sobra da arquitetura e da estética colonial - área da praça XV e rua Primeiro de Março: algumas igrejas, chafariz do Mestre Valentim e o Arco do Teles.

3---Marco urbanístico, mudou drasticamente o cotidiano da cidade e foi registrando os principais fatos políticos e sociais da vida do Rio. Criou um centro cultural e financeiro, ponto de encontro de intelectuais-artistas-boêmios, antes concentrados na rua do Ouvidor, surgiram lojas para todas as classes sociais, mesmo que fosse apenas para olhar vitrine e copiar modelos. Grande palco de passeio - homens em casacos pretos, mulheres imitando a moda francesa.

4---Com a morte do Barão do Rio Branco em 1912, o nome da avenida o homenageou. ----- AVENIDA RIO BRANCO, local dos principais acontecimentos, com destaque para o entorno da Igreja da Candelária: lugar escolhido por VARGAS para marcar subida ao poder em 1930, ponto de manifestações na luta por direitos sociais e políticos com o golpe militar de 1964, famosíssima Passeata dos 100 Mil, manifestações do movimento (Eleições) Diretas Já, proposta pelos "caras=pintadas" do impeachment presidencial em 1992, comemoração à eleição de um metalúrgico para a presidência da República...

5---Continua a mesma avenida importante, grande centro econômico e pólo cultural da cidade, mesmo após mais de um século de nascimento...

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FONTE:

"Testemunha ocular da história" - Rio, revista NÓS DA ESCOLA, ano 3, n.31/2005.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 26/04/2019
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