ESTÓRIAS CARIOCAS ACRONOLÓGICAS - PARTE VII

A BAÍA DE GUANABARA, que separa duas grandes cidades do estado do Rio de Janeiro, RIO e NITERÓI, é semeada de ilhas, ora pitorescas ora históricas. Vejamos:

Ilha da Boa Viagem, ligada à praia do mesmo nome por uma ponte - no local, a Capelinha de Nossa Senhora da Boa Viagem, construída no século XVII / Ilha das Cobras, perto da Ilha Fiscal - ali, Arsenal de Marinha e Hospital da Marinha / Ilha da Conceição - no ponto em que a Ponte Rio-Niterói toca esta cidade / Ilha das Enxadas - hoje Centro de Instrução Almirante Wandenkolk / Ilha Fiscal, avistada da praça Quinze, com uma construção em estilo gótico: o Palácio Verde, uma das residências da Família Imperial, ali realizado o último baile dessa elite, na véspera da Proclamação da República - hoje, ali funciona a Diretoria de Hidrografia de Navegação da Marinha / Ilha do Fundão, ligada à Ilha do Governador e ao continente, acesso por via terrestre, ponte, ou marítima, aerobarcos que trafegam regularmente - na ilha, o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, afamado Aeroporto do Galeão, e unidades da UFRJ / Ilha do Governador - pesquisa independente / Ilhas do Mocanguê e Mocanguê grande - pertencentes à Marinha / Ilhas de Lobos e Brocoió - perto de Paquetá / Ilha de Paquetá, a mais bela e pitoresca - ainda guarda aspectos do passado, construção mais antiga é a Capela de São Roque, com estátua do protetor da ilha, mandada construir por D. João VI que a chamava ilha do Amor, e onde residiu por muitos anos José Bonifácio - nome da praia mais procurada -, o Patriarca da Independência - cenário do romance "A moreninha", de Joaquim Manuel de Macedo - oferece a poesia das praias e casas graciosas, local sem veículos barulhentos e trepidações da vida moderna - atualmente, muitos bares, hotéis, residências modernas e projeto para um hotel flutuante - se não derrubaram, existiu por décadas um baobá... e muitas arvoretas de flamboiant / Ilha de Villegagnon (nome irônico imerecido, local da primeira invasão dos franceses), próxima e ligada ao Aeroporto Santos Dumont, onde fica a Escola Naval.

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Afinal de contas, quem foi VILLEGAIGNON? Bom, NICOLAS DURAND, senhor de VILLEGAIGNON, 45 anos, alourado, catolicíssimo, cruzou a baía em novembro de 1555 com duas naus, um pequeno barco de mantimentos e 600 homens, ideia de criar a França Antártica. Era cavaleiro de Malta, soldado com votos equivalentes aos de padre. Estudou teologia na Sorbonne, época de Calvino, Santo Inácio e São Francisco Xavier (pesquise, caro leitor). Foi um dos criadores do protestantismo e dos primeiros jesuítas - Reforma e Contra-Reforma nasceram ao seu redor; neste período da história, alguns lugares se converteram à fé protestante, outros se mantiveram católicos convictos, a França 'rachada', demoradas guerras religiosas, divisão de pobres e ricos, fome e massacres - nesse contexto, nasceu a colônia na Baía de Guanabara. ----- Em 1548, 38 anos de idade, em episódio de bravura, o almirante VILLEGAIGNON deu uma volta na marinha protestante inglesa, invadiu a Escócia e raptou Mary Stuart, a menina herdeira católica, para casar com o futuro rei francês. Muitas façanhas sob imensa influência na corte. ----- Déspota puritano: a maioria dos homens que trouxe para o novo mundo, prisioneiros com oferecida liberdade (não ainda delação premiada!) em troca da viagem perigosa, na entrada na baía num dia de sol, enlouqueceu com tantas índias nuas e o almirante pendurou no forte a ameaçadora espada. ----- Vaidoso, trouxe uma coleção de roupas coloridas, uma para cada dia da semana. ----- Franceses instalaram-se na ilha (atual Villegaignon), onde fundaram um forte, depois na ilha de Paranapuã (atual Ilha do Governador), na praia do Flamengo e outras localidades, fazendo amizade com os índios tamoios, e aqui ficaram por vários anos, sob tentativas de expulsão pelo Governador Geral, MEM DE SÁ. ----- Culto, principalmente em questões teológicas. A segunda leva de colonos era de outro grupo, huguenotes, calvinistas com desejos de paraíso de liberdade religiosa nos trópicos - VILLEGAIGNON queria uma colônia e outros uma esperança: ele e pastores em choque nada chique! Debates intensos... se pão e vinho eram metáfora ou... literalmente corpo e sangue de Cristo; cavaleiro de Malta, homem rígido e dogmaticamente literal - França Antártica ruiu: impossível o convívio entre os dois opostos grupos de aventureiros.

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FONTE (parcial):

"Entre 1500 & 1600", de PEDRO DÓRIA.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 26/04/2019
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