O SORRISO DO APARTAMENTO

Lembro que no dia 21 deste mês, publiquei neste espaço um texto com o título “Lágrimas da Casa”. Agora trago este texto em contraposição.

O “Sorriso do Apartamento” se refere ao “meu” apartamento, local de onde ninguém pode me expulsar ou impedir de entrar. Passei a ficar desconfiado de tanto ser expulso dos meus relacionamentos e ficar à deriva, sem um lugar para ir. Então, este é o meu apartamento, o meu domínio pessoal. Aqui eu faço imperar a minha missão, de construir relacionamentos com base no amor incondicional, inclusivo. Qualquer pessoa que chegue neste meu ambiente e não sintonize com esta energia que está dentro dele, não poderá ficar. Para que exista a harmonia dentro dele, condição especial para se manter o amor, é necessário a sintonia com o amor incondicional. O amor condicionado a qualquer situação pode até ser tolerado, mas jamais ser acolhido em suas críticas.

Assim é o meu apartamento, um ninho de amor incondicional. Foi assim que ele me recebeu, com um sorriso na essência, ao perceber a tristeza em minha face. Era como se ele tivesse dizendo: seja bem-vindo, Francisco, como sempre. Você sabe que isso sempre vai acontecer, onde você estiver, com quem estiver, pois seu amor incondicional sempre irá entrar em choque com o amor condicional de alguém. A liberdade que tu ofereces a qualquer companheira, jamais tu terás a recíproca, por mais que elas se esforcem, está no sangue, nos instintos, na biologia. Terminas fazendo o outro sofrer, e por consequência, você também passa a sofrer, pois não quer se sentir culpado pelo sofrimento de ninguém.

Senti-me acolhido no sorriso do meu apartamento, era um sorriso solidário, de estar me dizendo que não tem mágoas por eu não ficar mais tempo dentro dele, que entende que eu deva sair e me relacionar, afinal o amor incondicional só pode ser praticado dentro dos relacionamentos e estes estão na maioria fora das quatro paredes de um lar. Mas que eu possa voltar quantas vezes eu quiser e ficar se isso for necessário.

Fiquei a lembrar das lágrimas da casa, que tem se acostumado comigo. Tenho que faze-la compreender essa condição, que não posso ficar onde não me queiram, por qualquer motivo apresentado. Tenho que seguir as lições do Mestre que disse: ao chegares em alguma casa e perceberes que não é bem-vindo, bate a poeira de tuas sandálias e parte.

Já que elas não podem se locomover, nem a casa nem o apartamento, talvez desenvolvam algum tipo de telepatia e possam trocar informações. Talvez um coração de pedra possa entender melhor os meus motivos, do que um coração de carne, tão cheio de instintos e egoísmo.