SILÊNCIO DE SURDO
Algumas saudades são incrivelmente teimosas,
ficam martirizando o chão sem pena,
viram alarmes que nunca cansam de berrar.
Essas saudades fazem estrago nos passos,
descabelam o que sobrou da gente,
bagunçam as filigranas da alegria.
Êta saudade cruel, bravia, alucinada,
vem do nada e ocupa cada quarto da alma,
seus braços dão voltas e mais voltas sem alforriar.
Então, num belo dia, resolve fazer as malas,
some por algum ralo sem dar tchau,
deixando atrás dela um nada do tamanho de Deus.
Quando nos damos conta passamos a respirar de novo,
aquela paz arredia e distante vem pra se aconchegar,
então tudo vira mar calmo, tudo vira silêncio de surdo,
daí a vida dá um bocejo e cai no gozo que sempre mereceu.