Às vezes me pergunto se Mia Couto é uma ilha ou a travessia, uma vez que passeia por paisagens tão desconstruídas e obscuras, aparentando não tocar a água, quando, na verdade, se afunda inteiro nela.
 
E sem recuo, em algum ponto do meu esquecimento, medito sob os labirintos da ingenuidade dúbia(?) :
Aonde me conduz o livro ? À que vida ou à que morte ? E essa sensação, essa perseguição indefinível ?
 
Leio às pressas - devoro - aberta às imponderáveis energias das palavras.
Agora que me inicio à casa, enfrento o sonho dessa terra inóspita. Divago e me embriago na minha própria excitação, até descobrir, quase como um poder obscuro, os prestígios vívidos e inocentes, indestrutíveis no silêncio dos espaços.
[ Logo tudo é ritmo e libertação ].
 
Falar apenas de uma única obra de Antônio Emílio Leite Couto, pseudônimo - Mia Couto, chega a ser quase um desrespeito, uma alienação. Não há predileções. Mia é vasto - como os seres, as constelações e as incertezas humanas.
E se a inteligência é o novo sexy, Mia Couto está para as cabeças !
 
Ler Mia é como estar sempre às portas da floração - sempre a rebentar. Não se foge, não se parte. Ele nos parte ao meio, sem crime, sem loucura, e com alto perfume de flores às mãos.
Pertencem-lhe os romances e os poemas, cujo amor incontido nesse homem, transpira-o e nos faz transpirar.
E, "antes de haver o tempo", ao cerne lanoso da nossa alma, pulsa, infatigavelmente, íntimo .

 






 
DENISE MATOS
Enviado por DENISE MATOS em 24/04/2019
Reeditado em 24/04/2019
Código do texto: T6631591
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