De tudo que tinha acumulado ao longo da vida o seu maior presente era o despertar, como se fosse a sua glória, sua conquista diária, uma briga contra o tempo. Acordava cedo, aguava as plantinhas e com um terço de contas de lágrimas entre os dedos, deslizava o Rosário ( por entre os calos que a natureza criou por causa do trabalho pesado na agricultura), em favor da saúde da família que era seu grande tesouro, legado imaterial jamais valorado com pecúnia: 11 filhos já criados, somando mais de 30 netos e 10 bisnetos.
De joelhos, entoava um canto de louvor com os braços elevados ao Pai como se Deus a tocasse nas mãos e a caregasse até cada membro da família, disibuindo bençãos espirituais.
Com um ar de amor rarefeito buscava sua escova de plástico que encaixava no dedo médio e com suas cerdas grossas deslizava, penteando calmamente os cabelos longos, quase que na cintura (feito promessa por cura de doença), trançando-os bem devagar, com um alinhamento perfeito.
Todo quinto dia útil do mês aquela cena se repetia, era dia de ir ao banco para receber a pensão por morte do esposo, que muito cedo se despediu por causa de complicações por doenças respiratórias. Acima da porta do quarto estava lá a fotografia do casamento, em preto e branco, numa moldura desbotada, mas intocável, poeira a consumia, mas o risco de danificar a foto ultrapassava o desejo de vê-la lustrosa e brilhante, eram coisas de quem amou até o infinito e temia que se quabrasse a útima lembrança.
A buzina avisou que estava na hora. Ela pegou o terço do casamento e no vestido azul marinho de bolsos largos e grandes colocou-o, como que num ritual de gratidão, fazendo o sinal da cruz. O filho que tinha nome de santo Antônio era o seu chofer naquelas ocasiões, a levava até o banco e logo depois faziam compras nos supermercados da cidade.
Antes de chegar até a porta, onde a alegria lhe saltava aos olhos, num sorriso farto, pela presença tão esperada do filho, impreterivelmente às 13 horas, passava pela cristaleira, onde tinha um baleiro recheado de balas mastigàveis, os dentes já não eram os mesmos, e as colocava no outro bolso como que equilbrando o peso do terço no dorso.
Se despedia do filho mais novo, 48 anos, que era portador de síndrome de down, e cuidadoso que só, vivia organizando e arrumando toda a casa, impecável no propósito, naquele dia estava "ariando" as panelas de alumínio, quando ouviu a depedida e respondeu como se alguém mais além dela entendesse: ai, ai, com Deu (Vai, vai com Deus).
Nada se compara à espera na porta e ao abraço apertado acompanhado de um sorriso cujo alcance estava além do que os olhos podiam ver, era uma alma agradecida que ela tinha, desde que concebida.
Com uma bolsa de couro preta e uma sapatilha de pano sobre a meia calça cor da pele, que era acompanhada de uma anágua branca, se vestia como se fosse para um grande evento, nas mãos as orações para entregar ao filho, que abria para ela a porta e a assentava carinhosamente, enquanto respondia as perguntas sobre cada um dos filhos na ordem de nascimento. Quando então Antônio dava a partida naquele carro de janelas elétricas que a tornava feliz, ia ditando o comando a cada bolinho de crianças que aprecia: - Pára agora Antônio. Abria a janela e distribuia as balas abençoando a garotada. Era uma carreata com ao menos 12 paradas e dezenas de orações até o centro urbano.
Tudo milimetricamente calculado até chegar na Praça, a partir de onde recitava o Salmo 139 que terminava exatamente de frente ao banco. Descia recebia e no retorno contava como as pessoas a tratavam bem, se sentia uma rainha, mesmo não sendo rica. Depois de se assentar novamente no veículo, partiam para o supermecado e a frase finl antes da entrda no portal era: - Antônio, não me deixe esquecer de comprar as balas, só tem mais um pacote.
E esse era o melhor rosário de Rosária Rosa de Jesus cujo registro de nome se perdeu no tempo, deixando apenas o timbre azul na certidão de nascimento com sua digital.
De joelhos, entoava um canto de louvor com os braços elevados ao Pai como se Deus a tocasse nas mãos e a caregasse até cada membro da família, disibuindo bençãos espirituais.
Com um ar de amor rarefeito buscava sua escova de plástico que encaixava no dedo médio e com suas cerdas grossas deslizava, penteando calmamente os cabelos longos, quase que na cintura (feito promessa por cura de doença), trançando-os bem devagar, com um alinhamento perfeito.
Todo quinto dia útil do mês aquela cena se repetia, era dia de ir ao banco para receber a pensão por morte do esposo, que muito cedo se despediu por causa de complicações por doenças respiratórias. Acima da porta do quarto estava lá a fotografia do casamento, em preto e branco, numa moldura desbotada, mas intocável, poeira a consumia, mas o risco de danificar a foto ultrapassava o desejo de vê-la lustrosa e brilhante, eram coisas de quem amou até o infinito e temia que se quabrasse a útima lembrança.
A buzina avisou que estava na hora. Ela pegou o terço do casamento e no vestido azul marinho de bolsos largos e grandes colocou-o, como que num ritual de gratidão, fazendo o sinal da cruz. O filho que tinha nome de santo Antônio era o seu chofer naquelas ocasiões, a levava até o banco e logo depois faziam compras nos supermercados da cidade.
Antes de chegar até a porta, onde a alegria lhe saltava aos olhos, num sorriso farto, pela presença tão esperada do filho, impreterivelmente às 13 horas, passava pela cristaleira, onde tinha um baleiro recheado de balas mastigàveis, os dentes já não eram os mesmos, e as colocava no outro bolso como que equilbrando o peso do terço no dorso.
Se despedia do filho mais novo, 48 anos, que era portador de síndrome de down, e cuidadoso que só, vivia organizando e arrumando toda a casa, impecável no propósito, naquele dia estava "ariando" as panelas de alumínio, quando ouviu a depedida e respondeu como se alguém mais além dela entendesse: ai, ai, com Deu (Vai, vai com Deus).
Nada se compara à espera na porta e ao abraço apertado acompanhado de um sorriso cujo alcance estava além do que os olhos podiam ver, era uma alma agradecida que ela tinha, desde que concebida.
Com uma bolsa de couro preta e uma sapatilha de pano sobre a meia calça cor da pele, que era acompanhada de uma anágua branca, se vestia como se fosse para um grande evento, nas mãos as orações para entregar ao filho, que abria para ela a porta e a assentava carinhosamente, enquanto respondia as perguntas sobre cada um dos filhos na ordem de nascimento. Quando então Antônio dava a partida naquele carro de janelas elétricas que a tornava feliz, ia ditando o comando a cada bolinho de crianças que aprecia: - Pára agora Antônio. Abria a janela e distribuia as balas abençoando a garotada. Era uma carreata com ao menos 12 paradas e dezenas de orações até o centro urbano.
Tudo milimetricamente calculado até chegar na Praça, a partir de onde recitava o Salmo 139 que terminava exatamente de frente ao banco. Descia recebia e no retorno contava como as pessoas a tratavam bem, se sentia uma rainha, mesmo não sendo rica. Depois de se assentar novamente no veículo, partiam para o supermecado e a frase finl antes da entrda no portal era: - Antônio, não me deixe esquecer de comprar as balas, só tem mais um pacote.
E esse era o melhor rosário de Rosária Rosa de Jesus cujo registro de nome se perdeu no tempo, deixando apenas o timbre azul na certidão de nascimento com sua digital.