DOS PROJETOS QUE NUNCA CONCRETIZEI

A adolescência é uma época de grande ebulição. No meu caso, não só hormonal, mas também criativa. Acho que de tanto ler e ver televisão, senti-me na capacidade (quase obrigação!) de desenvolver minha veia de escritor. Some-se a isso um amigo que conheci no Ensino Médio com uma mente tão efervescente e louca quanto a minha. Bem, dessa união surgiram algumas ideias que, por diferentes motivos (entre eles o bom senso) não saíram do papel, mas continuam vivas na lembrança.

Era início dos anos 90. Na tv, dois seriados faziam grande alvoroço entre jovens e adolescentes: "Barrados no baile" e "Melrose Place". Foi dessas fontes de inspiração que surgiu "Rush", um seriado com nome em inglês mas recheado de personagens tipicamente brasileiros. O elenco já estava escalado (nossos amigos, é claro!) e alguns episódios foram escritos. Cada cena criada gerava dez minutos de risadas! Nunca gravamos um take sequer. Dois ou três anos depois, a Globo lançava "Malhação".

Nessa mesma época, já escrevia algumas de minhas crônicas. Eram sucesso entre meus amigos, mas eles não são a melhor referência, já que compartilham de ideias e pontos de vista muito semelhantes. Daí surgiu um outro projeto em conjunto: "Uma abóbora não é igual a um biscoito amanteigado". Não me pergunte o porquê desse nome esdrúxulo, não foi ideia minha. Mas eu gostei! Seria uma coletânea de crônicas, minhas e do meu parceiro de escrita e ideias mirabolantes. Até alguns anos atrás ainda tinha algumas delas guardadas. Do conteúdo pouco lembro, mas não há como esquecer esse nome mirabolante!

Se você era um jovem leitor nos anos 90, provavelmente já se deparou com algum livro-jogo, uma espécie de avô do RPG. Eram aventuras em que a cada situação você tinha escolhas que o levavam a determinada página onde a história continuava. Sempre uma surpresa até a conclusão da história, se seu personagem não morresse no caminho. Na nossa aventura, as protagonistas seriam duas sexagenárias - fugitivas de um asilo - que percorreriam o país com o objetivo de chegar a tempo para a festa de quinze anos da neta de uma delas. Nota dez no quesito originalidade, não é?!?

Se cada um desses projetos, dentre outros menores que não me recordo agora, tivesse sido levado adiante, não sei no que daria. Talvez não fossem considerados mais que uma piada ou nos tornassem jovens ricos autores. Nunca saberemos. Hoje em dia, um é barbeiro e o outro professor, mas partilhamos em comum as memórias de uma época em que tudo era mais simples, inclusive sonhar.