D i s s i d e n t e
Sou alguém que por mais que se esforce será sempre um dissidente. Mais: criticado até pelos companheiros de ideais. Faço de tudo para não arenga, discutir, divergir. Mas não tem jeito. Faz parte de mim não aceitar, principalmente, unanimidade. Tenho que discordar para que haja democracia. Sim, sou um estranho no ninho, em qualquer ninho. Reconheço que sou chato e empata-samba.
A mais recente arenga foi numa espécie de festa, reunião de amigos da esquerda, só havia esquerdista, bebida, comida, conversas, recordações e etc e coisa e tal. Só que alguém convidou um sujeito, um profissional, musico e cantor, daquele tipo voz e violão, um cara muito afinado, que eu j´pa conhecia porque de vez em quando via ele tocando num supermercado e também num shopping. O repertório do cara é arretado, so MPB. Bom, o cara tava li fazendo o trabalho dele, e na hora que começou a cantar uma música de Fagner (a meu pedido) que diz mais ou menos isso no começo, "Um dia vestido de saudades....", um dos amigos, esquerdista xiita, viu o cantor e começou a gritar: - Pessoal, essa cantor é da direitona, só vota na direita, nunca votou em Lula e nem em candidato nenhum da esquerda". Foi um rebu danado, o pobre do cantor ficou assutado, já estava arrumando seus troços para dar o pira, quando resolvi chamar o feito ´à ordem (gostaram da expressão?). Peguei o microfone do cantor e com a voz cavernosa e rouca comecei a minha arenga: "Que que isso? Patrulha ideológica? Que é que tem o cu com as calças? Você mesmo que dedou o cantor vive de cama e mesa com m sujeito que foi acusado de dedo-duro na ditadura. O cara veio aqui cantar, trabalhar, cantar o que vocês gostam, o melhor da MPB. A mi não importa em quem ele votou. Se censurarem o cantor vou embora e vou denunciar esse absurdo. Mandei o cara cantar de novo a música de Fagner. Mas nunca mais vou a esse tipo de festa com muita gente. Tem sempre uma merda. Uma amiga me disse depois que eu estava cert mas nã deveria ter falado no caso do dedo-duro. Não, nã devia, mas falei e priu. Inté.